Entenda o que são armas biológicas e saiba quando elas foram utilizadas

Entenda o que são armas biológicas e saiba quando elas foram utilizadas

Entenda o que são armas biológicas e saiba quando elas foram utilizadas

Desde a Antiguidade até o conflito na Ucrânia, as armas biológicas são uma opção de guerra…

Por Michele de Mello/via Brasil de Fato

A descoberta de laboratórios aptos para o desenvolvimento de armas químicas e biológicas na Ucrânia deixou o em alerta. Segundo a denúncia do Ministério de Defesa russo, foram encontrados 26 laboratórios no território ucraniano, perto da capital, Kiev, e nas regiões de Lviv, Kharkiv, Kherson, Odessa, Veneza, Ternopil, Mykolaiv, Poltava e Uzhorod.
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Enquanto França e Reino Unido acusam a Rússia de disseminar notícias falsas durante a sessão do Conselho de das Nações Unidas, a subsecretária de dos EUA, Victoria Nuland, reconheceu ao Congresso estadunidenses a existência de laboratórios na Ucrânia.
Além do suposto financiamento dos estudos de armas biológicas, o atual ministro de Saúde ucraniano, Viktor Liashko, participou de curso da Agência de Cooperação dos EUA (USAID) sobre epidemias e agentes infecciosos.
“Obviamente que nenhuma nação vai afirmar ‘sim, eu tenho um laboratório produzindo armas biológicas’, ninguém vai dizer isso. É possível produzir armas biológicas? Sim, os cientistas sabem fazer modificações genéticas. Mas nós não precisamos desenvolver patógenos novos para ser usados como armas. Já existem alguns que naturalmente são altamente patogênicos, com alta taxa de mortalidade”, explica a professora do Instituto de Biociências da USP, Patrícia Beltrão Braga.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define como armas biológicas o uso ou produção de vírus, bactérias, fungos ou toxinas com a intenção de causar doenças e morte em humanos, animais ou . Esses agentes são um subconjunto das armas de destruição em massa, que também inclui armas químicas, nucleares e radiológicas. 
Entre os patógenos mais comuns está o Antraz, uma bactéria que pode ser transmitida pelo ar, pela ingestão de alimentos contaminados, principalmente carnes, ou pelo manuseio de produtos infectados. Os sintomas variam de acordo com a forma como a doença foi adquirida, podendo gerar uma infecção respiratória, intestinal ou úlceras na pele. Em todos os casos, o antraz pode levar à morte.
Outra doença bacteriana usada como arma biológica é a cólera, gerada pela bactéria vibrio cholerae, que provoca uma infecção no intestino, gerando diarreia e vômitos. A contaminação também se dá através da ingestão de água ou alimentos infectados. Segundo a OMS, há de 1,4 a 4,3 milhões de casos de cólera e de 28 mil a 142 mil no mundo devido à doença todos os anos.
“Os patógenos que são usados como armas geralmente são patógenos que nós inspiramos, que essa transmissão é feita por via aérea. O Antraz é um esporo, está numa forma protegida do , como se fosse uma semente, e quando você aspira ela vai parar no seu organismo e essa semente brota, ou seja, a bactéria sai do esporo e entra na sua forma ativa, com metabolismo e capacidade de se multiplicar”, explica a bióloga Patrícia Beltrão Braga.
Em 1972, 183 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) assinaram a Convenção de Armas Biológicas, que proíbe o desenvolvimento, a produção, a aquisição, a transferência, o armazenamento e o uso deste tipo de armamento.
“Sempre existem formas de passar por debaixo dessas convenções. Há uma ‘paradiplomacia da força’ que inibe um tratamento sério, honesto e igualitário para todos os países. Há alguns que podem ter armas químicas, outros que não; há alguns que podem ter laboratórios e [outros que] não podem ter no seu território — não por questões morais, mas por impedimentos legais — ele aluga espaço em outros países para instalar seus laboratórios”, comenta o filósofo e coordenador do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional da Universidades Estadual Paulista (Unesp), Héctor Luis Saint-Pierre. 
De acordo com denúncia do porta-voz da chancelaria chinesa, Zhao Lijian, os Estados Unidos possuem 336 laboratórios em 30 países sob seu controle, sendo 26 na Ucrânia.
A chefe de desarmamento da ONU, Izumi Nakamitsu, afirmou  que “a ONU não tem conhecimento de nenhum programa de arma biológica”.

Toma lá, dá cá

Esta não é a primeira vez que há troca de acusações sobre o uso de armamento deste tipo. Em 2018, Moscou alegou que Washington mantinha laboratórios de desenvolvimento de armas biológicas próximo às fronteiras da Rússia e da China. 
No início da pandemia de , os Estados Unidos acusaram a China de criar e dispersar o vírus Sars-cov2, enquanto o governo chinês pediu que fossem investigados laboratórios financiados pelos EUA no Leste da Europa.

Para trabalhar com patógenos altamente contagiosos são necessários laboratórios e vestimentas que garantam alta segurança aos cientistas / John Thys / AFP

O uso de armas biológicas não é uma novidade na história da humanidade. Na Antiguidade, em disputas entre diferentes etnias, as pontas de flechas era contaminadas com fezes de animais. Os soldados do Império Romano contaminavam os poços de água de seus inimigos lançando fezes ou animais mortos. 
Com o tempo e o avanço da ciência, começaram a ser desenvolvidas técnicas e patógenos mais infecciosos com a intenção de provocar maiores danos em adversários num confronto armado.
Nas duas guerras mundiais há acusações do desenvolvimento de armas biológicas, tanto pelos alemães, como pelos estadunidenses e soviéticos, mas não há documentos que comprovam seu uso.
Durante a guerra sino-japonesa, entre 1930 e 1940, o Japão inseriu a peste bubônica e a cólera em cidades chinesas, nas províncias de Zhejiang e Hunan. O exército imperial japonês possuía uma unidade secreta para pesquisa e desenvolvimento de guerra biológica, denominada Unidade 731. Estima-se que cerca de 3 mil prisioneiros chineses foram usadas como cobaia para testes com armas biológicas japonesas.
No período da Guerra Fria, os Estados Unidos e a URSS desenvolveram pesquisas voltadas para a guerra bacteriológica.
“Seria fácil alguém pensar em usar um vírus altamente patogênico que está guardado em estoques no mundo. E por que existem esses estoques? Por que se ele surgir de novo, por algum motivo, nós precisamos desse vírus para produzir vacina. Então é necessário um estoque, um biorepositório em algum lugar do mundo, altamente controlado, guardado”, explica a especialista em microbiologia, Patrícia Beltrão Braga.
Para o manuseio de bactérias e vírus altamente contagiosos são necessários laboratórios de nível de biossegurança 4, que possuem diferentes níveis de pressão, filtragem de ar, entre outras características que garantem que o patógeno não irá infectar os cientistas ou se disseminar para fora do recinto. 
No mundo existem laboratórios desse tipo na China, Índia, Japão, Paquistão, Rússia, Ucrânia, Estados Unidos, Síria, Iraque e Irã. 
No Brasil só existem laboratórios de nível de segurança 3, mas há uma mobilização da comunidade científica por para a abertura de uma nova estrutura de pesquisa no país.
“É importante que existam esses laboratórios de segurança máxima, que são os mesmos que são construídos para armas biológicas, mas que eles sejam usados para estudar esses patógenos de alta taxa de mortalidade e morbidade”, comenta Patrícia Beltrão Braga.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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