Pudim de claras: Deliciosa herança lusitana

PUDIM DE CLARAS: DELICIOSA HERANÇA LUSITANA

Pudim de claras: Deliciosa herança lusitana

Temos buscado, a cada edição, resgatar receitas tradicionais, costumes familiares, enfim, contribuir para a preservação da gastronômica por vezes tão atropelada pelos “fast foods” das esquinas modernas.

Por Lúcia Resende

Do colonizador, “além do sangue lusitano, da boa dosagem de lirismo e da sífilis, claro”, como bem lembrou o , herdamos rica influência na nossa culinária. Quando o assunto é sobremesa, impossível não recordar uma de além-mar.

Aqui, vamos falar do pudim Molotov ou pudim de claras, simplesmente. Esta é uma boa forma de aproveitar as claras que sobram de diversas , entre elas a da brevidade, delícia de que falamos na edição anterior, ou do pão-de-ló,  quindim, fio-de-ovos, dos ovos moles, da baba-de-moça, do toucinho do céu, entre outras tantas da famosa “Doçaria Conventual” portuguesa.

Segundo A. Tavares e Carlos Rocha (https://ciberduvidas.iscte-iul.pt), o pudim de claras é uma sobremesa de “tempos de guerra” e teria virado pudim “Malakoff” na época da Guerra da Crimeia, ocorrida em 1854–1855. Malakoff era o nome de uma fortaleza que protegia a cidade de Sebastopol, onde se deu importante batalha na qual o czar russo foi derrotado.

Mais tarde, por ocasião e influência da Segunda Mundial, mais especificamente do ministro dos Negócios Estrangeiros da então União Soviética Vyacheslav Mikalovich Skriabine, chamado na clandestinidade de Molotov, o pudim teria mudado de nome em Portugal.

Feito o registro histórico, o pudim de claras me lembra mesmo é cozinha de casa de mineira, me traz o gosto da na roça, onde ovo era fartura e faltavam os variados ingredientes que hoje enchem nossos armários. A simplicidade da receita que não iluda, pois aqui está uma sobremesa simplesmente espetacular!

  • 6 claras
  • 1 pitadinha de sal
  • 8 colheres de açúcar refinado

Em uma panela, leve o açúcar ao até dourar, acrescente a água e faça uma calda em ponto de caramelo. Espalhe a calda ainda quente por toda a forma (própria para pudim). Reserve.

Bata as claras com a pitadinha de sal até ficarem bem firmes. Sempre batendo, acrescente as colheres de açúcar uma a uma. Bata mais um pouco até que fique firme e homogêneo, como um glacê.

Coloque as claras na forma com cuidado, ajeitando com uma colher e dando leves batidinhas. Em seguida, asse em banho , em forno pré-aquecido a 200 graus até que fique dourado. Depois de morno (não frio) desenforme com cuidado e leve à geladeira.

Gelado, é servir e esperar os elogios!

Atenção: cravo, raspas de limão, baunilha, isoladamente, podem ser acrescentados à receita, para aromatizar.

Bom apetite!

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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