E agora?
O que se pode dizer hoje é que este é um dos momentos mais difíceis na história dos povos indígenas, porque trata-se de uma política adrede pensada, preparada dentro do próprio governo, que utiliza a máquina pública para ser contrária à questão ambiental e à questão indígena…
Por Sydney Possuelo
Esses são os fatores que fazem com que estes últimos quatro anos – claro, estamos falando do governo Bolsonaro – tenham sido os piores anos para os povos indígenas, desde sempre.
O que vemos agora, no Vale do Javari, com essas mortes, ou na Terra Indígena Yanomami, com 20 mil invasores, com os garimpeiros passando de barco, dando tiro nas comunidades, isso é o resultado, é o produto dessa política estabelecida por este governo nefasto.
Esse povo que está destruindo a Amazônia se sente protegido pelo governo. O governo os protege. O governo protege bandido. O governo está do lado de quem invade as terras indígenas, de quem acaba com o meio ambiente, de quem persegue e assassina gente como o nosso companheiro Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips.
É preciso ter claro que essa tragédia não vem de nehuma força extraterrestre, universal. Não, o que estamos vivendo é algo pensado dentro da polítia brasileira. E isso não vai passar se não mudarmos o comando da política nacional. Nossa solução tem que ser essa, eleger, dentro do sistema democrático, pelo voto, uma nova visão sobre a questão indígena e sobre o meio ambiente.
Nem sempre as coisas foram ruins como estão agora. Não que antes tudo tenha sido perfeito, pelo contrário, sempre foram difíceis; por exemplo, pelo menos a questão estrutural – da demarcação de todas as terras indígenas –poderia ter sido resolvida durante os anos de governos do PT.
O que piora as coisas, infinitamente, é que antes não existia esse clima instuticionalizado de fomento à violência, de distribuição de armas, de destruição da Amazônia e do meio ambiente, do ataque deliberado aos povos indígenas, que envergonha o povo brasileiro no Concerto das Nações. Eu mesmo tenho viajado e muitas vezes eu fico com muita vergonha de como o mundo nos vê hoje, lá de fora.
O que fazer? Torcer para que essas semanas do período pré-eleitoral passem logo e para que o novo governo tenha consciência sobre sua responsibilidade de proteger nossos povos e cuidar do nosso patrimônio. Até lá, é torcer para que os povos indígenas do Vale do Javari e todos os outros povos do Brasil se mantenham, como estão agora, firmes na Resistência.
Sydney Possuelo – Sertanista. Indigenista. Ex-presidente da Funai.