Dom Paulo Evaristo Arns: O cardeal da Esperança!

Dom Paulo Evaristo Arns: O cardeal da Esperança!

Dom Paulo Evaristo Arns vai embora desse  nosso mundo destrambelhado justo um dia depois dos 48 anos do Ato Institucional 05, editado há quase cinco décadas pelo governo golpista da ditadura contra os do povo brasileiro. Dom Paulo, o nosso “cardeal da esperança” nos tempos bicudos do regime militar, tinha 95 anos…

Por Zezé Weiss

Foi uma broncopneumonia que tirou Dom Paulo dos espaços do nosso nesta manhã chuvosa deste  14 de dezembro, justo um dia depois da aprovação da PEC 55,  a chamada PEC do Fim do Mundo, para muitos e muitas democratas da cepa de Dom Paulo, um novo AI 5, editado contra os pobres do Brasil, contra os oprimidos pelos quais Dom Paulo sempre lutou.

Para a História, o frade franciscano Paulo Evaristo Arns, o irmão da Dra Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança (falecida no terremoto do Haiti em 2010), o bispo dos oprimidos, o cardeal dos trabalhadores, o guardião dos direitos humanos, o bom pastor, o bispo dos presos, o cardeal da escolheu o mais simples dos títulos. Recentemente, Dom Paulo declarou que basta ser lembrado como o “amigo do povo”.

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Imagem: memoriasdaditadura.org.br

Pra minha geração, o catarinense Dom Paulo, nascido a 14 de setembro de 1921 na colônia de Forquilhinha, na região de Criciúma, vai ser sempre bem mais do que um amigo do povo. Dom Paulo será sempre lembrado por  seu inarredável compromisso com a  proteção dos e das  militantes da democracia, perseguidos pelos coturnos nos tempos bicudos da ditadura.

Quem não sabe que umas das primeiras medidas de Dom Paulo ao assumir a Arquidiocese de em 1970, onde ficou até 1998, foi vender o Palácio Pio XII, que era a luxuosa residência oficial do arcebispo, para construir casas populares na periferia da capital paulista? Ou de suas visitas aos presos comuns nas cadeias de São Paulo? Ou da corajosa denúncia das torturas a presos políticos nos porões da ditadura?

Quem não acompanhou seu  apoio aos que aplicavam a opção preferencial pelos pobres, definida pelo Concílio Vaticano II na Conferência Episcopal de Medellín, ou lutaram pelo Anistia e pela redemocratização do país durante os anos de chumbo? Ou da voz retumbante de Dom Paulo em defesa do movimento grevista do ABC Paulista ao final dos anos 70?

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Imagem: folhapress

Nos campos, nos morros, nas favelas, fossem eles advogados/as, jornalistas, operários/as, onde quer que houvesse uma injustiça, lá estava Dom Paulo lutando por liberdades. Quem não se lembra do  culto ecumênico chamado por Dom Paulo na Catedral da Sé para protestar contra o assassinato do jornalista Vladimir Herzog nas masmorras do regime militar em São Paulo, no ano de 1975?

Quem diria que o menino pobre do sul do Brasil  que calçou seu primeiro par de sapatos quando já tinha oito anos de idade, ordenado padre em 1945, graduado doutor pela prestigiosa Sorbonne em 1952, quando podia fazer uma carreira acadêmica brilhante nas instituições franciscanas, ou como jornalista profissional, optaria pelo barro dos morros,  pela sopa dos favelados: “O povo é a família do padre (…). E o padre (…) não é fujão nem frouxo”.

Corajoso, o cardeal nomeado pelo Papa Paulo VI no Consistório da Igreja Católica em 1973, Dom Paulo manteve, ao longo da , a posição corajosa que o fez criar a Comissão de Justiça e Paulo na Arquidiocese de São Paulo em 1972, e a manter a luta contra o temível Esquadrão da Morte do delegado Sergio Paranhos Fleury.

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Imagem: difusora10

Como em toda vida longa e profícua, existem também críticas a Dom Paulo. Uma delas argumenta que na disputa das do povo Guarani em São Paulo, o cardeal ficou do lado da Igreja contra o direito dos povos originários. Se bem é certo que Dom Paulo nunca foi um indigenista como Dom Tomás Balduíno, também é certo que o Cardeal Arns  jamais faltou com a defesa dos Direitos Humanos durante seu quase um século de vida.

Embora tenha passado os últimos anos mais recluso, Dom Paulo teve a oportunidade de receber em vida muitas homenagens. Em 18 de maio de 2013, por exemplo, o bravo cardeal recebeu a visita da então presidenta Dilma Roussef em Taboão da Serra, onde residia, para ouvi-lo sobre a Comissão da Verdade.

Depois de 71 anos de sacerdócio, encantou-se  o nosso cardeal das Diretas Já, o pastor que ousou enfrentar o poder dos militares, o bispo amoroso que depois dessa vida só quer ser lembrado como um amigo do povo.  Que pena, Dom Paulo, que pena que seu encantamento tenha acontecido logo agora nesses tempos temerários, onde o Brasil parece caminhar a passos largos para um longo período de retrocessos. Que pena mesmo.

Em sua memória,  Dom Paulo, seguiremos na trincheira da resistência, “de esperança em esperança”, acreditando sempre em dias melhores para as gerações presentes e futuras. Paz e Bem.

Dom Paulo Ana Ottoni Folhapress 1Imagem: folhapress


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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