Você sabe se Lula já é presidente?

Você sabe se Lula já é presidente?

No sinal vermelho, ela se aproximou para pedir uma moeda e imediatamente lançou sua pergunta: Você sabe se Lula é o presidente?…

por Juan Espinoza/via Mídia Ninja

A voz dessa soava assim, quebrada, por trás de cansados, dentro de um corpo que havia deixado sua juventude em, quem sabe, batalhas pela , mas com certeza muitas outras e outras como ela, hoje, moravam nas ruas, possivelmente com , possivelmente com frio. Mas sim, com certeza absoluta, com o desejo de que a vida seja um pouco mais suportável, com a fome visceral e a vontade de que esta enorme cidade se torne um pouco mais amigável, que o direito básico de ter abrigo e a deixe de ser discurso, que esse mínimo que não nos diferencia como espécie lhe permita recuperar o brilho nos olhos.

Sua pergunta, que era uma exigência de certeza e ao mesmo tempo um grito de , trouxe consigo milhares de outras vozes e histórias. Era a do delongado e violado, era a do Brasil preto, , diverso, que não entendia por que sua maravilhosa generosidade estava sendo contagiada por um ódio estranho, impróprio, patriarcal e abominável.

Era fim de tarde no domingo de eleição, a contagem dos votos tinha apenas começado. A esquina de um bairro central de tornou-se o verdadeiro sentido do dia, transformando suas sombras no final do dia naquele corpo preto dessa mulher adulta que exigia as melhores respostas. Eu só consegui manter meus olhos longe das lágrimas de , causadas por aquela explosão de realidade. O que eu diria a ela tinha que ser a certeza do maior dos desejos naquele momento e que ficasse ressoando sem sair da minha garganta.

Sim, camarada, Lula é presidente!

http://xapuri.info/lburdia-gabriel-aprovado-em-medicina-na-usp-fazia-faxina-para-pagar-cursinho/
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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