Queridos Txais Indígenas (Memórias de um Sertanista)
Queridos Txais Indígenas
Aqui vai o primeiro texto datado do dia 17.03.2023
Por Antônio Macêdo
Eu, sertanista Txai Macedo, vou contar essa história para vocês, porque em muitos casos, sinto que as atuais gerações indígenas vêm, por diversos motivos, afastando-se de seus conhecimentos ancestrais e suas histórias vividas. Vou contar essas histórias para vocês por áudios. Preciso que vocês se esforcem para aprender e compreender toda essa rememoração histórica com boa atenção e sem impulsos nervosos e sem respostas agressivas uma vez que me sinto um conhecedor nato de muitas histórias às vezes fantásticas e às vezes cruéis.
Iniciando as histórias
Conheci os povos indígenas quando eu ainda era criança. As primeiras histórias que os adultos me contavam sobre os povos indígenas eram histórias tristes, sangrentas. Era um verdadeiro terror. Naquele tempo, os seringais, os castanhais e a exploração madeireira eram economias que já haviam sido implantadas na Amazônia, e em especial no Acre desde 1878. Meus irmãos e minhas irmãs, eu nasci no dia 07 de maio de 1952. Quando eu tinha 3 anos de nascido já estava morando numa maloca indígena Kaxinawa do Igarapé do Caucho. De 1878 para meu nascimento já havia se passado 74 anos que as frentes pioneiras da borracha haviam se instalado no Acre. Eu já me encontro atualmente com 71 anos de idade, o que explica que fazem 145 anos de colonização estabelecida nestas nossas regiões amazônica. Ainda sou do final do tempo das Malocas e das Correrias.
O que era as correrias?
Lutas sangrentas e desiguais travadas pelos senhores da borracha contra as Malocas e populações indígenas. Naquela época, as populações indígenas ainda isoladas eram chamadas de selvagens e portanto podiam ser mortas segundo mostrou o império da borracha em nossos seringais. No Brasil tinha uma lei criada pelos colonizadores chamada Lei da Guerra Justa. E o que era e como funcionava a tal Lei da Guerra Justa? Um indígena, um negro, um gay, um ladrão, alvos que segundo os carrascos podiam ser mortos e aquilo “não eram crimes”. O que dava aos coronéis de barranco o entendimento de que podiam matar os povos indígenas e aquilo não contava enquanto crime.
Um verdadeiro contato de fogo, crimes, desordens sem par e sem Deus na mente e nem nos corações. Eu cresci ouvindo essas histórias malucas, mas que realmente ocorreram na pratica.
Arranjos cruéis e consequências trágicas
Tanto para o extermínio quanto para a dominação chamada de pacificação, uns grupos eram usados contra outros grupos quando podiam e deviam se considerar irmãos. Havia entre os povos indígenas a guerra da pajelança, a luta pela mulher e as rivalidades causadas pelas participações obrigadas de indígenas já dominados pelos coronéis, os quais eram usados contra outros grupos irmãos. Quando iniciei minha atuação indigenista, eu ainda jovem, ainda encontrei no meio dos povos indígenas as situações de desconfianças muito fortes e que reinavam entre os povos indígenas, o que lhes mantinham desunidos e escravizados.
Tempo dos direitos
O tempo dos direitos chegou para os povos indígenas do Acre, Sudoeste do Amazonas e Noroeste de Rondônia através da atuação dos indigenistas Txai Terri Valle de Aquino, Txai Macedo e txai Dedé Maia, que aos poucos fosse conseguindo trazer outros atores para atuarem na mesma construção.
Construção do quê?
Construção dos movimentos sociais indígenas e indigenistas nesta região.
Revitalização ou reintegração cultural?
Meus irmãos, cultura é algo orienta a vida social e constitui diferenciais importantíssimos para o nosso caminhar na vida. Cultura não surgiu para estagnar, ficar parada no tempo. Surgiu para evoluir. Porém alguns princípios deverão e é muito importante serem mantidos. Até porque as culturas ocidentais são fortemente supressoras e colonizadoras. E se não cuidar termina embarcando nas canoas furadas da colonização e as culturas tradicionais vão sendo esquecidas. Por exemplo, quando eu era criança um chefe étnico era chamado Tuchawa. Isso não se vê mais aqui em nossa região. Os modelos de fora engoliram os nomes dos antigos Tuchawa visto que as gerações sucessoras abraçaram uma nova nomenclatura mesmo sem entender seus significados. O que era Tuchawa no passado, atualmente se chama cacique ou liderança. Esses nomes vieram de fora. Cuidado gente. Porque revitalizar é reincorporar a vestimenta cultural ancestral não é fazer uma festa, se pintar e dizer que com apenas isso sua cultura está preservada.
Bom meus queridos txais minha pretensão é continuar escrevendo essa memória e estou fazendo isso para ajudar as suas memórias. Não percam a continuidade desta boa memória sobre suas histórias e se preparem amigos caciques porque vou escrever aqui muitas e boas informações importantíssimas relativas às suas famosas histórias.
Antonio Macedo – Indigenista Acreano.
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