Jovem alma…
Por Jairo Lima
Jovem alma…
Em que suspiros a alma que de ti respira a tal pensamentos lhe fere?
Ao cair da tarde, quando o equinócio à luz pálida do dia que se apresenta, à mãe do céu noturno olhe para as estrelas e lá verás, triste espírito, que dos sonhos de liberdade dos grilhões invisíveis d'alma te livrastes.
Ao horizonte foca teu olhar e das sombras do mundo que te rodeia entenda que dos sentimentos somos senhores e não servos. Afinal, que desperdício seria se cedêssemos ao arbítrio do invisível que de tão presente, por vezes, toma forma de uma dor, que profundamente aperta em nosso peito, nos consumindo a existência tal qual a lúgubre luz de uma vela que aos poucos perece.
Acalente seu coração, minha pequena rosa vermelha. Saiba que há dias para a caça e outros para a prece. Há dias para de si se pores ao longe, e dias para ao longe se pôr de si. Ao engenho da vida nos entregamos, juntando as pequenas peças de um infinito mosaïque, na vã esperança que ao fim de nossa comédia existencial o tenhamos finalizado.
Caminho ao jardim, entregando-me aos aromas de minhas rosas, embriagando-me de lembranças do que foi, ou do que poderia ter sido. Mas, se ao passo essa embriaguez ao tino não me afasta, da razão me preenche e das dúvidas me põe ao longe, dando-me à certeza de minha maturidade que das peças do mosaïque, que ao primeiro suspiro à luz pus a primeira peça, ao distante estou de seu fim.
Respire, jovem alma… respire esse ar impregnado de lembranças que te embalam, e que à distância do horizonte transporta teu leve espírito aos meus maternos braços. De suas lágrimas acalento ao colo, seguro e aconchegante, como se de mim, teu frágil corpo jamais tivesse se afastado. E trarei à certeza de sua jovem alma o entendimento de que somos como a brisa morna ao fim do gelado inverno, prenunciando o renascer eterno da primavera.
Lembre-se, criança: Há dias para a caça, e há dias para a prece…
Nunca deixe que o perigoso láudano da tristeza em seu ser faça morada.
De sua, sempre vigilante,
Mãe de Copas
Primidi, mês de Germinal.
Jairo Lima – Indigenista acreano. Em Diários de Alice.