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Acre: Terra da Solidariedade

Acre: Terra da Solidariedade
 
Por Marcos Jorge Dias
 
Acre terra distante, de rios e barrancos. Os desinformados dizem que não existe, os que imaginam existir acreditam que onças, jacarés e imensas sucuris trotoam livres e harmônicas na praça central da aldeia, onde papagaios, periquitos e tucanos, entre outros avoantes, fazem algazarra no final da tarde quando o sol se espicha na mata para as bandas do oceano Pacífico.
 
Não. Não é esse o cenário local. No Acre as tardes de março são azuis, de nuvens azuis carregadas de águas. Os historiadores, geólogos e geógrafos dizem que em priscas eras o Acre era fundo de um imenso lago onde nadava o Purussauro e incluía grande parte do que hoje conhecemos por Amazônia.   
 
O sol nem é tão escaldante como dizem alguns exagerados de pele mais sensível. Em março o sol é brando, dourado como os cabelo de um anjo do museu de São Petersburgo.
 
Mas voltemos ao Acre, neste fim de tarde do fim de março, um mês que apesar do nome masculino é um período extremamente feminino.
 
Não pude deixar de pensar no Poder do feminino quando ao cair da tarde recolhíamos doações para as pessoas vítimas da alagação que acontece em vários pontos de Rio Branco e do Estado do Acre.
 
Fiquei divagando sobre as  nuvens, nuvens plúmbeas, as águas, as ruas alagadas, as enxurradas, as mulheres,  a sororidade deste Acre, Terra da SOLIDARIEDADE.
Acre mjd tarde
 
Texto e foto interna: Marcos  Jorge Dias  – Escritor acreano. Capa: Agência Acreana

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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