Em 2022, bancos investiram U$673 bi na exploração de combustíveis fósseis

Em 2022, bancos investiram U$673 bi na exploração de combustíveis fósseis

Desde a adoção do , que visa limitar emissões, as 60 maiores instituições financeiras do injetaram U$ 5,5 trilhões em empresas do ramo.

Por Cristiane Prizibisczki/O Eco

O financiamento de combustível fóssil por parte dos 60 maiores bancos do mundo atingiu U$ 5,5 trilhões (R$ 27,1 trilhões) nos sete anos que se passaram desde a adoção do Acordo de Paris, que visa limitar o em 1,5ºC, a partir da redução de emissões de gases estufa. Apenas em 2022, as instituições financeiras mundiais injetaram US$ 673 bilhões (cerca de R$ 3 trilhões) em empresas voltadas para a exploração de e gás natural, mostra um estudo internacional divulgado nesta quarta-feira (14).

Chamado “Bancando o caos climático”, o é a análise mais completa sobre financiamento de combustíveis fósseis em nível global. Endossada por 634 organizações de 75 países, entre elas Rainforest Action Network, Greenpeace e Fridays for Future, o mostra o quanto os bancos ao redor do mundo estão comprometidos – ou não – com o .

Segundo o trabalho, os altos investimentos nas empresas do setor em 2022 aconteceram mesmo elas tendo registrado lucro de US$ 4 trilhões (R$ 19,7 trilhões) no período em questão.

O relatório mostra que, no geral, os bancos dos EUA dominam o financiamento de combustíveis fósseis, respondendo por 28% do total financiado em 2022. O JPMorgan Chase continua sendo o pior financiador mundial do caos climático desde o Acordo de Paris, mostra o trabalho. Citi, Wells Fargo e Bank of America ainda estão entre os 5 principais financiadores fósseis desde 2016.

Contraditoriamente, muitas instituições financeiras adotaram nos últimos anos compromissos de emissões zero como abordagem para enfrentar a . Dos 60 bancos analisados no relatório, 49 estabeleceram, desde 2021, algum tipo de meta de descarbonização, seja pela Aliança Bancária por Zero Emissões Líquidas (NetZero Banking Alliance, NZBA, em inglês), liderada pela ONU, ou por iniciativa própria.

“Nossa análise das políticas de financiamento de combustíveis fósseis e compromissos de emissões líquidas zero por todos os 60 bancos mostra que, apesar da linguagem de “net zero” adotada, as políticas dos bancos poderiam estar fazendo mais para que eles pudessem se alinhar com os compromissos climáticos globais”, diz o relatório.

O trabalho mostra também que os investimentos em combustíveis fósseis ainda continuam altos, mesmo quando de todo mundo urgem para a necessidade da transição energética para matrizes mais limpas.

Usando como justificativa a possível falha no fornecimento de energia na Europa, devido à guerra entre Rússia e Ucrânia, empresas exploradoras de gás natural conseguiram aumentar em 50% o financiamento em 2022, quando comparado com 2021. Isso aconteceu mesmo tendo a maioria dos especialistas concordado com o fato de que a expansão do GNL na Europa é desnecessária e novos projetos só contribuirão para um excesso de oferta e dependência desse combustível no longo prazo.

Para o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, os critérios “obscuros e duvidosos” dos compromissos empresariais de Net Zero e as narrativas falsas enganam consumidores, investidores e reguladores. “[Isso] Alimenta a da desinformação climática e deixa a porta aberta para o greenwashing”, disse Guterres em meados de março, por ocasião do lançamento do último relatório do IPCC.

O banco espanhol Santander lidera o financiamento para empresas que extraem petróleo e gás no bioma Amazônico, seguido pelo banco americano Citi, mostra o trabalho. O total investido para tal fim totalizou US$ 769 milhões (R$ 3,8 bilhões) em 2022.

Cristiane Prizibisczki – Jornalista. Fonte: O Eco. Foto: Capa do relatório “Banking on Climate Chaos – Fossil Fuel Finance Report 2023/Divulgação. Este artigo não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade do autor.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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