Nova meta climática não representa aumento de ambição

Nova meta climática não representa aumento de ambição

Novas porcentagens de corte foram anunciadas nesta quarta-feira (20) em Nova York. Organizações esperavam mais.

Por Cristiane Prizibisckzi/O Eco

O governo anunciou, nesta quarta-feira (20), as novas porcentagens de corte de emissões de gases estufa, em seu cálculo de correção das metas climáticas assumidas pelo país junto à Organização das Nações Unidas, alteradas na gestão Bolsonaro. Os novos valores foram informados pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do , Marina , em discurso na Cúpula da Ambição Climática, realizada em Nova York. 

Como o governo federal já havia afirmado, as metas nacionais – chamadas de NDCs – voltaram a considerar o teto de emissões adotado pelo em 2015, quando foram apresentados pela primeira vez no âmbito do .

Na época, para atingir esse teto, o corte anunciado foi de 37% até 2025 e 43% até 2030, em relação aos dados de 2005. Com o anúncio feito hoje pela ministra Marina Silva, a porcentagem de corte muda para 48% em 2025 e para 53% em 2030. Mas atenção: elas não significam aumento de ambição. 

Entenda o cálculo

Quando a primeira meta foi estipulada, em 2015, existia um cálculo para determinar o total de emissões do país em 2005 – o ano base para o cálculo -, o chamado Inventário Nacional de Emissões. 

Com o passar dos anos, as tecnologias e metodologias para fazer esse inventário foram aprimoradas e descobriu-se que, naquele ano base, o Brasil emitiu muito mais do que o calculado anteriormente. 

Portanto, para chegar em 2025 e 2030 emitindo o teto estipulado, a porcentagem apresentada agora também teve que aumentar.

As NDCs brasileiras foram revisadas duas vezes durante o governo Bolsonaro. Na última delas, em abril de 2022, o governo de então utilizou uma manobra contábil que permitiu aumentar a porcentagem de corte aumentando as emissões, ao invés de diminuí-las. 

Isto é, anunciou uma porcentagem maior de corte, mas sobre um inventário defasado, o que resultou em emissões maiores. A ação foi chamada por organizações da civil de “pedalada climática”.

Para evitar esse tipo de manobra aconteça no – e evitar confusões neste assunto tão complexo – organizações sugerem que, nos próximos dias, quando oficializar a correção junto à ONU, o governo brasileiro apresente o total que pretende emitir – 1,3 bilhão de CO2eq em 2025 e 1,2 bilhão de CO2eq em 2030 – e não a porcentagem de corte.

“Esperamos que a submissão contenha a referência a um teto absoluto de emissões, de forma a evitar confusões futuras com mudanças em base de cálculo. Este era um avanço na resolução do governo que determinou a correção da NDC e precisa ser mantido”, diz Stela Herschmann, especialista em Política Climática do Observatório do Clima.

Bom, mas nem tanto

A correção da pedalada climática foi comemorada, mas organizações esperavam mais. Confira algumas repercussões:

“Corrigir a NDC brasileira para o que foi estabelecido em 2015 é um passo no caminho certo, uma vez que recoloca o país no caminho para se tornar carbono zero em 2050 – premissa do Acordo de Paris. Porém, atualmente, oito anos após o Acordo de Paris e com a mudança do clima se mostrando pior e mais severa do que o que fora projetado em 2015, é preciso que o Brasil se comprometa com mais ambição na meta de frear o , e se torne carbono zero antes da metade do século. E isso é possível”, disse o Greenpeace

“É muito pouco do ponto de vista da emergência climática e fica muito aquém do que o Brasil poderia entregar em cortes de emissões em 2030. Porém, dada a tragédia dos últimos quatro anos e do de ação climática que o país perdeu ao eleger um governo negacionista em 2018, essa volta ao passado é um passo adiante, especialmente considerando a vergonhosa falta de ambição de outros grandes poluidores”, anunciou o Observatório do Clima

“O anúncio representa um passo fundamental para que o Brasil volte ao rumo do Acordo de Paris e contribua para chegarmos à neutralidade das emissões em 2050. No entanto, com o agravamento das e o triste número cada vez maior de desastres e vítimas, é preciso que o Brasil e outras nações aumentem ainda mais suas ambições e apresentem metas para um futuro carbono zero o quanto antes”, disse a  The Nature Conservancy (TNC) Brasil.

Cristiane PrizibisckziJornalista. Fonte: O Eco.  Foto: Christian Braga/Greenpeace.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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