TERROR NO SUPERMERCADO

TERROR NO SUPERMERCADO

Terror no supermercado

Para meu azar, reflito ao fim: aquele supermercado, faz um mês, foi palco de assaltantes contra um carro-forte. Tiroteio pesado. Terror nos olhos do vigilante.

Por Urariano Mota/Portal Vermelho

Não sei se a razão foi porque eu acabara de encontrar um leitor entusiasmado com o que escrevo, e de quem até agora não sei o nome (mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa), o certo é que eu estava de espírito leve, querendo abraçar o mundo e suas contradições.

O que é justo, mas tem que ponderar, como falaria o velho Machado de Assis. No entanto, eu entrei firme na leveza.

Daí que à saída do supermercado, com as minhas compras parcas, mas ancho, avisto um vigilante. E digo a ele:

– Você, um trabalhador, arrisca a sua vida pra defender o patrimônio dos outros.

O diabo foi que ao lhe falar, o vigilante mal me olhava, ou melhor, mau me olhava, porque seus olhos iam de um canto a outro, passando sobre mim. Então eu fui na direção do seu olhar e vi: naquele exato instante, seus colegas transportavam malotes de dinheiro do supermercado.

E refleti adiante, enquanto caminhava: “esse vigilante me tomou como um assaltante que desejava desviar sua atenção”. Contra isso ele estava de espingarda 12, colete à prova de bala contra qualquer solidariedade. Ainda bem que não fui ao ponto de retirar da sacola um iogurte para ele. Receberia bala de 12 de volta pelo gesto suspeito.

Para meu azar, reflito ao fim: aquele supermercado, faz um mês, foi palco de assaltantes contra um carro-forte. Tiroteio pesado. Terror nos olhos do vigilante. Terror de quem eu seria. Terror no supermercado.

Fonte: Portal Vermelho Capa: Reprodução

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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