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LITERATURA INFANTO-JUVENIL NA LUTA CONTRA O RACISMO

LITERATURA INFANTO-JUVENIL NA LUTA CONTRA O RACISMO

A literatura infanto-juvenil na luta contra o racismo

Gente e Livros: A literatura infanto-juvenil como contribuição na luta contra o racismo

Por Iêda Leal

“A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio.” Martin Luther King

É sabido que a escola é um espaço de contribuição significativa na luta contra o racismo. Por essa razão, lutamos para a criação da Lei que tornou obrigatório o ensino da História da África e da Cultura Afro-brasileira na Educação Básica: a Lei 10.639/03. Mas não basta apenas ter a Lei, é preciso implementá-la. E como podemos fazer isso?LITERATURA INFANTO-JUVENIL NA LUTA CONTRA O RACISMO

Não precisamos reinventar a roda. Podemos nos apropriar daquilo que já temos. Um dos instrumentos pedagógicos que cada professor e professora pode e deve utilizar é o livro literário. A literatura é mágica e pode tomar proporções grandiosas, caso seja trabalhada no espaço escolar de maneira lúdica para reconstruir nossas visões sobre as representatividades culturais e identitárias de um povo. Para isso precisamos de Gente e Livros.

A literatura pode alcançar a necessidade das pessoas. Pode influenciar uma cultura ou a visão que se tem sobre ela. Pode fazer com que as boas experiências extrapolem os muros da escola. Precisamos começar cedo com nossas crianças e adolescentes.  Se queremos contribuir para formar cidadãos livres do racismo e dos preconceitos, a literatura pode ser um caminho.

Os livros de literatura já estão presentes no cotidiano da escola e há uma produção enorme de obras que abordam a ideologia do racismo. É preciso que o professor e a professora abram espaços para essa literatura que contempla a diversidade, para aquelas obras que talvez não sejam tão conhecidas, mas que traduzam as condições históricas e os enredos dos povos negros e afro-brasileiros.

Essas obras estão lá, nas prateleiras das nossas bibliotecas e salas de leitura, aguardando leitores que deem vida aos mais variados personagens, por meio da leitura individual ou coletiva, ou da contação de histórias. Com essas ações, os estudantes poderão aprender histórias fantásticas sobre o povo negro, suas sagas, e descobrir que o mundo pode ser visto de diversas maneiras. Podemos avançar, inovar e produzir novos conhecimentos para explicar nossa existência aqui neste nosso universo.

É preciso continuar acreditando que podemos construir um mundo sem racismo. Por muitos anos o currículo da Educação Básica ignorou a diversidade racial. Precisamos reelaborar nossos currículos e os colocar em prática. Na escola podemos organizar momentos de se aprender com histórias escritas que são capazes de representar, modificar ou sedimentar culturas.  É preciso dar visibilidade e impedir a morte daqueles autores que se empenham na construção da diversidade. Não é tarefa fácil, mas muito prazerosa tanto para os estudantes como para os educadores, estimular e dar consistência política para esse momento de leitura.

Ao final deste texto, seguem algumas recomendações de leituras a serem realizadas de forma coletiva, isto é, seguindo um compromisso básico: as histórias não poderão parar em nós mesmos.  São necessários a leitura e o compartilhamento delas em sala de aula, nas casas, em seus outros locais de trabalho fora da escola, enfim, em todos os locais onde for possível dividir segredos nascidos de olhares silenciosos, provando que um outro mundo pode nascer e encantar pessoas. É isso, dividir visões para encher os olhos e fazer transbordar ideias, valorizar mais as vidas.

São livros que possuem palavras coloridas, cheias de verdades pulsantes. A simples ação de lê-los e organizar as conversas sobre essas histórias no cotidiano da escola irá fortalecer a percepção de uma grande maioria sobre a riqueza da diversidade política cultural, econômica e social dos povos de origem africana. A literatura enquanto arte nos possibilita romper com a normatização, configurando novas perspectivas de enxergar e representar o mundo.

Esses livros sairão das prateleiras e ganharão vida em cada pessoa que ousar repetir as histórias, para que essas histórias ganhem o nosso mundo e que de boca em boca instale o milagre da multiplicação. Será assim, através da contação dessas obras, que continuaremos o trabalho de combate ao racismo para garantir cidadania e respeito.

Desse modo, promovendo mais um passo para a igualdade racial. Assumindo compromissos… Compromisso de quebrar esse silêncio nos espaços escolares. Compromisso de garantir um currículo que dê conta da diversidade humana. Compromisso de fazer com que as pessoas ao entrar em uma escola possam sentir parte dela. Compromisso de transformar as escolas em espaços de reviver histórias de luta e sobrevivência de todos os povos.

Compromisso com uma escola sem racismo. Existir e Resistir pelas histórias e suas narrativas. Conheçam histórias para serem vividas:

Epé Laiyé terra Viva – Maria Stella de Azevedo Santos – uma história que nós devemos ver! ” – um depoimento de amor a nossa natureza;

Bino o menino africano da cor do algodão – Marcial Ávila e Rosa Margarida – uma história recheada de sabedoria;

Embolando palavras – Madu Costa – uma relação que traduz resistência;

OruKomi (meu nome) – Esmeralda Ribeiro – uma história que traz vida;

Os comedores de palavras – Edimilson de Almeida e Rosa Margarida – um alimento sagrado capaz de transformar o mundo;

Seis pequenos contos africanos de Raul Lody – sobre a criação do mundo;

Mizu e a estrela – Margarida Cristina Vasques – andar pelo mundo distribuindo palavras;

O príncipe da Beira – Josias Marinho – um Príncipe que se orgulho de seu trono: o colo da mãe;

Contos e crônicas do mestre Talomi/ A África viva no Brasil – Paulo César Pereira de Oliveira – uma homenagem a nossa ancestralidade.

Iêda Leal – Secretária de Combate ao Racismo da CNTE; Secretária de Comunicação da CUT-GO; Tesoureira do ; Coordenadora Nacional do Movimento Negro Brasileiro. 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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