Quem disse que a África não tem história?
Por Resistência Preta- Pan-africanismo
Muitas pessoas estão pensando que África não tinha história. No entanto, estudos históricos e arqueológicos provaram que a África tem uma história mais rica e maior do que os historiadores antigos tentaram fazer-nos acreditar.
A ÁFRICA NO DNA DO POVO BRASILEIRO
Por Marcos Cardinalli/Genera
Segundo o estudo da Genera, o continente africano representa 10,95% do DNA brasileiro, e destacam-se as nações mais impactadas pelas principais rotas de escravidão.
- 35% de Costa da Mina. É uma região do Golfo da Guiné que compreende os atuais países Gana, Togo, Benin e Nigéria. Recebe esse nome devido ao forte de São Jorge da Mina, erguido na região no final do século XV;
- 30% de África Ocidental. Corresponde aos países Camarões, Gabão, República do Congo, Angola, Guiné Equatorial e trechos da Namíbia, África do Sul, República Centro Africana e República Democrática do Congo, bem como o arquipélago São Tomé e Príncipe;
- 14% de África Oriental. Região banhada pelo Oceano Índico e composta pelos países Tanzânia, Quênia, Malawi, Moçambique, Zimbábue, Zâmbia, Suazilândia e parte da África do Sul.
A diáspora africana causada pela escravidão de pessoas negras a partir do século 15 encontrou nas colônias europeias nas Américas seu principal destino. Entretanto, quando falamos de Brasil, existem algumas singularidades muito importantes a serem avaliadas.
Diversidade genética no continente africano
A África é o continente com maior variabilidade genética de todo o mundo. Isso, porque é nele onde surgiu a espécie humana, e o decorrer do tempo favoreceu que se criasse uma grande diferenciação genética entre seus diversos povos. Aqueles que saíram da África e a partir daí migraram para demais extensões territoriais do planeta representam apenas uma pequena parte dos povos africanos ancestrais. Portanto, alguns estudiosos afirmam que há maior proximidade genética entre um europeu e um asiático do que entre africanos de partes distintas do continente.
Essa contextualização é importante quando avaliamos que as rotas da escravidão negra foram bem distintas para as diferentes colônias nas Américas. O Brasil foi uma das poucas, se não a única, colônias a receber africanos de praticamente todas as etnias. O que torna nosso país especial quando estudamos a riqueza da ancestralidade africana.
Devido às condições do período escravagista, em que as pessoas escravizadas eram separadas de suas famílias e obrigadas a conviverem e se misturarem com pessoas de outros grupos étnicos e regiões de origem, ocorreu também no Brasil uma miscigenação genética entre as diferentes etnias africanas.
O apagamento da história ancestral africana
Além disso, o Brasil utilizou do trabalho escravo desde o início de sua colonização, no século 16, e foi o último país a abolir o regime escravocrata, já no século 19, há apenas 135 anos da época atual. Foram quase 400 anos de escravidão negra no país, com cerca de 4 milhões de homens, mulheres e crianças trazidas ao país, de acordo com estudo do IBGE. O número é equivalente a mais de um terço de todo comércio negreiro.
Entretanto, a Lei Áurea, assinada em 13 de maio de 1888, que encerrou a escravidão no Brasil, não previu a integração social e econômica dos negros libertos, mantendo-os por sua própria sorte e à margem da sociedade. Esse fato ajuda a explicar o racismo estrutural e a concentração histórica de pessoas pretas nas camadas economicamente mais pobres da sociedade brasileira.
Ressaltamos, ainda, que ao chegarem ao Brasil, além de separadas de seus familiares, as pessoas escravizadas tiveram grande parte de sua história apagada, e eram obrigadas à conversão religiosa e a abandonarem suas tradições e costumes. E, devido a isso, seus descendentes desconhecem, por exemplo, de que países seus ancestrais eram originários. O teste genético de ancestralidade tem sua importância ao trazer luz para essa história, revelando origens e raízes ancestrais.
Região Nordeste: berço da África no Brasil
Em relação as regionalidades, os primeiros africanos escravizados no Brasil chegaram à região Nordeste, para trabalharem nos engenhos de açúcar e cultura canavieira. Depois, com as mudanças dos ciclos econômicos, a rota do tráfico de pessoas foi direcionada também às lavouras de café nos estados do Sudeste. Isso pode explicar uma maior expressão da ancestralidade africana em estados dessas regiões.
Os três estados brasileiros que mais possuem essa ancestralidade são:
- Bahia: 23,05%
- Sergipe: 16,90%
- Maranhão: 15,96%