Xapuri: STR elege nova direção para retomar história de lutas desde os tempos Chico Mendes

Xapuri: Por 151 x 73 votos, em cenário de permanente revolução, o Sindicato dos Rurais retoma de lutas com nova direção

Aconteceu hoje (18/05) em Xapuri, município acreano distante 178 km da capital , no Acre, a eleição para a presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, entidade fundamental na história do movimento social brasileiro, uma vez que o STR foi o local onde começou  a luta dos que projetou para o .

O STR-Xapuri foi a trincheira de resistência nos anos de chumbo do desmatamento e da bovinização da região nas décadas críticas de 1970 e 1980, que culminou com o assassinato de Chico Mendes em 22 de dezembro de 1988. Após o assassinato de Chico Mendes,  seus companheiros  e continuaram na luta, mas depois de algum tempo, sem a forte liderança de Chico, o Sindicato caiu nas mãos de seus opositores, tendo atualmente no seu quadro de filiados o filho do mandante do assassinato.

Após 11 anos, os antigos companheiros de Chico Mendes resolveram dar um basta na vergonhosa situação em que se encontra o STR-Xapuri. Usando da mesma estratégia  que Chico usava, o grupo formado por Assiz, Raimundão, Júlio Barbosa, Leide Aquino entre outros, começou a conversar e a reagrupar velhos militantes, novos extrativistas, antigos e novos companheiros e companheiras da luta pela preservação da floresta e, agora, pela consolidação das cadeias produtivas e da comercialização dos produtos da florestais.

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O resultado de toda dessa articulação foi a chapa “Nossa luta, nossa história” formada por 32 pessoas de várias comunidades, tendo o seringueiro Francisco de Assiz Monteiro de Oliveira,  o Assiz como candidato a presidente, bem como a movimentação de vários companheiros no apoio (Gomercindo Rodrigues, o Guma, , Cacá e outros que, da mesma maneira quando ocorreram os empates, estavam no “anonimato” dando  suporte aos que estão na frente de batalha.

“Estamos muito felizes com essa vitória, porque agora teremos a oportunidade de colocar, de novo, o Sindicato a  serviço dos trabalhadores, de seguir na luta pela regularização fundiária, e também na luta por melhores condições de produção mantendo a floresta preservada para as gerações que vêm depois de nós,” disse o Assiz por telefone à Xapuri no final da apuração dos votos.

O abrir das urnas no final do dia de hoje,  com um resultado de 151 x 73,  mostrou claramente  por quem as seringueiras sangram!  Seu   continue jorrando em de Chico Mendes e de todas as lideranças que doaram suas vidas pela floresta e pelos que nela vivem!

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ANOTE AÍ:

Esta matéria foi editada com base em texto enviado desde Xapuri pelo poeta e escritor acreano Marcos Jorge Dias, de quem também são as fotos, e a quem agradecemos.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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