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TERRA SAWRÉ MUYBU RECONHECIDA

TERRA SAWRÉ MUYBU RECONHECIDA

Governo assina portaria declaratória da Terra Indígena Sawré Muybu

Sob o governo Bolsonaro, território foi ainda mais ameaçado pelo garimpo ilegal

Por Iram Alfaia/Portal Vermelho

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, assinou nesta quarta-feira (25) a portaria declaratória da Terra Indígena Sawré Muybu, localizada nos municípios de Itaituba e Trairão, no sudoeste do Pará.

A terra indígena é uma das mais ameaçadas pelo garimpo e desmatamento ilegal na Amazônia, sobretudo durante o governo de Bolsonaro que chegou a apoiar e receber garimpeiros da região no Palácio do Planalto.

São de 17 anos de luta do povo indígena Munduruku pelo reconhecimento da terra. O processo de demarcação, que começou em 2007, teve o estudo concluído, em 2016, pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Mas o processo só chegou a pasta da Justiça no ano passado.

O estudo delimitou o território em 178.173 hectares. A área abriga, aproximadamente, 420 indígenas. O povo Munduruku vive também em outros territórios no Pará que, somados, ocupam 2,6 milhões de hectares.

A pasta da Justiça diz que essa é a quarta portaria de demarcação de terras indígenas assinada pelo ministro em menos de um mês.

Em 5 de setembro, Lewandowski havia reconhecido oficialmente os territórios Maró e Cobra Grande, também no Pará, e Apiaká do Pontal e Isolados, em Mato Grosso (MT).

“Encerramos um período de seis anos sem demarcações. Começamos uma nova etapa para os povos indígenas no Brasil e não pararemos por aqui”, afirmou Lewandowski durante a assinatura da portaria em Brasília.

TERRA SAWRÉ MUYBU RECONHECIDA
Indígenas Munduruku reúnem-se para discutir a situação de seu território. (Foto: Murilo Hildebrando de Abreu/MPF-PA)

O ministro disse que a demarcação será importante para proteger a terra indígena do garimpo ilegal e da ação de madeireiros, além de promover a conservação ambiental da região.

“O ato tem um aspecto ainda mais relevante porque estamos falando de uma localidade que, nos últimos anos, infelizmente, se tornou símbolo do garimpo ilegal e da extração ilegal de madeira. O garimpo ilegal também tem impactado a região com a contaminação por mercúrio, afetando, principalmente, mulheres e crianças”, lembrou o ministro.

Desmatamento

De acordo com Instituto Socioambiental (ISA), a aprovação dos limites da terra indígena, em 2016, ajudou a diminuir as invasões e o desmatamento, mas a situação voltou a piorar no governo Bolsonaro.

“Além de seguir defendendo o garimpo ilegal, fazer vista grossa às invasões de áreas protegidas e paralisar as demarcações, na época a administração federal sabotou e esvaziou as operações de fiscalização ambiental na Amazônia”, lembrou o ISA.

Em 2018, o desmatamento na térrea indígena saltou de 25 hectares para 146 hectares em 2020, um crescimento de 484%.

Cerca de 27% do território indígena foi destruído pela mineração ilegal entre 2019 e 2022.

TERRA SAWRÉ MUYBU RECONHECIDA
Foto: Reprodução/InfoAmazônia

O ISA destacou também que, em 2020, o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, visitou a região em meio a uma operação de fiscalização contra os invasores dos territórios indígenas.

O ministro foi recebido em Jacareacanga por líderes do garimpo e fez declarações defendendo a legalização da atividade. Em 2022, garimpeiros foram recebidos no Palácio do Planalto, junto com políticos locais, para discutir o mesmo assunto.

Fonte: Portal Vermelho

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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