ELEIÇÕES 2024: AUMENTO LGBTQIAPN+ NO LEGISLATIVO MUNICIPAL

ELEIÇÕES 2024: AUMENTO LGBTQIAPN+ NO LEGISLATIVO MUNICIPAL

Brasil teve 231 candidaturas LGBTQIAPN+ eleitas para o legislativo municipal

Esta é a primeira vez que informações sobre orientação sexual e identidade de gênero aparecem nas fichas de candidatura

Por Mídia Ninja

No último domingo (6), 231 candidatos que se identificaram como LGBTQIAPN+ foram eleitos para as Câmaras Municipais do Brasil, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Esta é a primeira vez que informações sobre orientação sexual e identidade de gênero aparecem nas fichas de candidatura, marcando um avanço significativo na visibilidade política da comunidade. Embora o número de eleitos represente um progresso, é importante notar que apenas cerca de 30% dos candidatos LGBTQIAPN+ optaram por divulgar essas informações publicamente.

Em um cenário onde a diversidade de representação é crucial, o Espírito Santo destaca-se com a eleição de Açucena (PT), a primeira mulher da Câmara de Cariacica que se declara lésbica. Este exemplo reflete a necessidade de inclusão, mas também evidencia a limitação do espaço que pessoas LGBTQIAPN+ ainda ocupam na política. O dado de que 904 candidaturas se identificaram como transgênero, com 53 eleitos, e que 2% do total de 147 mil candidatos informaram ser LGBTQIAPN+, reforça a urgência em ampliar essa representatividade.

Entretanto, muitos candidatos LGBTQIAPN+ não se incluíram na contagem oficial do TSE, mesmo tendo se declarado abertamente durante a campanha. Exemplos notáveis são Amanda Paschoal (PSOL), quinta mais votada na Câmara Municipal de São Paulo, e Thammy Miranda (PSD), ambos com uma base significativa de apoio, mas que não declararam suas identidades ao TSE. A decisão aponta para um potencial subregistro da verdadeira representatividade LGBTQIAPN+ no Brasil, onde a transparência ainda enfrenta barreiras.

A coleta de dados pelo TSE, até então realizada apenas por organizações da sociedade civil, como a VoteLGBT+, é vista como um passo histórico. Para Gui Mohallem, diretor-executivo da VoteLGBT+, em entrevista à Folha de São Paulo, afirma que a iniciativa do TSE é um avanço, mas revela a necessidade de um processo de verificação e educação contínua sobre questões de identidade de gênero e orientação sexual. Ele destaca que erros nos preenchimentos dos formulários podem ser comuns, o que sugere que a qualificação das informações ainda carece de atenção.

Em 2024, a VoteLGBT+ registrou 225 pessoas LGBTQIAPN+ eleitas, com um aumento considerável em comparação às eleições anteriores, quando foram identificadas apenas 97 candidaturas.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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