Finalmente, enfrenta-se a QUESTÃO?

FINALMENTE, ENFRENTA-SE A QUESTÃO?

Finalmente, enfrenta-se a questão?

Como descrever o fenômeno mais letal na história do estado fluminense? Mais de 130 mortos ou assassinados na “armação ” do governo do estado, na Serra da Misericórdia, entre as favelas do chamado “completo” da Penha

Por Adair Rocha

De um lado, o pressuposto eleitoral é conditio sine qua non para se compreender porquê nesse momento, precedido também pela “normalização” ou “naturalização” da expressão: bandido bom é bandido morto, quase que significando moradores de favelas.

Isso introduz o discurso contra os Direitos Humanos, no inconsciente da população, cuja alternativa é o apoio e o aplauso do assassinato em massa, como aparente solução ao clima hostil e cruel do tráfico nas favelas. Finamente, enfrenta-se a QUESTÃO?

Não fica dúvidas de que “matança ” não é a solução. A emergência do tratamento dessa questão, não pela crueldade já citada, na exploração dos bens de consumo prioritários, como a sofisticada relação econômica e sua repercussão no sistema global, como o PCC em Belgrado e outros centros, como a Faria Lima, mostra o caráter orgânico nacional do CV. Isso precisa ser combatido e destruído.

Está em questão a ação do Estado em sua gestão territorial e integrada para a prisão dos líderes e militantes, de forma a desarticular organizações tão poderosas.

Em seguida à “matança” no Rio, verificou-se a prisão de lideranças e ativistas do CV, atuando na Bahia e no Ceará, seguindo com rigor esse papel integrado do Estado.

Isso, no entanto, pressupõe também uma leitura de cidade, em sua dimensão de multicentralidade.Finamente, enfrenta-se a QUESTÃO?

Adair Rocha – Professor Titular da FCS/UERJ. Autor de Cidade Cerzida. Capa: Joédson Alves/Agência Brasil

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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