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Chico Mendes Herói do Brasil

Chico Mendes Herói do Brasil

Chico Mendes Herói do Brasil

Chico Mendes talvez nem soubesse o que queria dizer ecologia e muito menos holocausto ecológico quando começou sua romaria para organizar a peãozada dos seringueiros. Primeiro, nos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e, mais tarde, para criar o PT…

Por Luiz Inácio Lula da Silva

Nessas caminhadas pela floresta, ele acabou juntando numa só bandeira a luta ecológica, a luta sindical e a luta partidária, porque sabia que elas são indissociáveis: uma alimenta a outra no mesmo ciclo de vida na natureza. E, feito inimaginável naquele tempo, para defender as mesmas lutas, sob a mesma bandeira, Chico liderou a união de índios, ribeirinhos e seringueiros na grande Aliança dos Povos da Floresta.

Quando estive em Xapuri, no Acre, para ajudar na campanha do Chico a prefeito, em 1985, a barra já estava pesando. Os latifundiários do Centro-Sul do Brasil, que tinham invadido a região, não escondiam de ninguém que ele estava marcado para morrer. Logo o Chico, que foi um dos mais apaixonados defensores da vida que já conheci, homem tão puro e tão limpo como a água da chuva da mata, que foi sua companheira incomparável.

Chico Mendes Herói do Brasil

É em memória de todos os companheiros e companheiras que, como o Chico, tombaram em defesa da terra, da floresta e da vida, que seguimos lutando para implantar no Brasil as políticas públicas sonhadas por ele. Políticas públicas voltadas para a construção de um modelo de desenvolvimento capaz de gerar riquezas para o país e para os povos da floresta e, ao mesmo tempo, preservar a nossa Amazônia, para as gerações presentes e futuras.

Lá num cantinho do céu, Chico hoje deve estar feliz por saber que, nesses últimos 30 anos, nem nós esmorecemos, nem seu trabalho deixou de ser multiplicado por esse Brasil afora. Nós hoje temos um Acre melhor, uma Amazônia melhor e um Brasil melhor. Como companheiro, celebro as vitórias alcançadas por todos nós a partir dos empates de Xapuri. Como brasileiro, celebro Chico Mendes, herói do Brasil, por continuar servindo de norte para a nossa luta por dias ainda melhores para todos nós e, especialmente, para os povos da floresta.

Luiz Inácio Lula da Silva –  Ex-Presidente do Brasil. Depoimento à jornalista Zezé Weiss para o livro Vozes da Floresta. Editora Xapuri. 2010. A data foi atualizada para os 30 anos do assassinato de Chico Mendes: Uma memória a honrar. Um legado a celebrar. (1988-2018). Foto: Lula com Angela Mendes, filha de Chico.

Obs.: publicado originalmente em 16 de jan de 2018

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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