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Transfobia e Agressão Física: Dalia Costa, estudante transsexual, denuncia violência sofrida em Pernambuco

Transfobia e Violência: Dalia Costa, estudante transsexual, é agredida em Pernambuco

“eu sou todxs.
sou as que foram mortas, as que foram abusadas, as que foram violentadas, estupradas e caladas.
eu sou Dandara viva! não conseguiram me matar, e eu não irei me silenciar.” 

Dalia Costa, uma estudante transsexual denunciou ter sido vítima de no campus Recife da Federal de Pernambuco (UFPE), após sair de um evento voltado à comunidade dentro da instituição. Dália Costa contou que a agressão física aconteceu no momento em que ela se dirigia à parada de ônibus. Antes, ela havia denunciado um caso de transfobia.

O caso ocorreu na noite de sexta-feira (23). A jovem relatou, em dois posts nas ,que saia de uma aula de pré-vestibular no Vestibular Solidário, na UFPE, quando decidiu ir a um aulão cultural promovido pela Diretoria LGBT da universidade, em frente ao Centro de Educação. A jovem foi abordada por um homem durante o evento.

“Um homem cis interrogou se eu era ou não, olhando para mim e minhas amigas. Afirmei ser mulher. O mesmo debochou e imediatamente olhei para o homem e falei ‘diga se eu não sou mulher! Diz olhando para mim e que eu não sou mulher’”, diz uma das postagens de Dália no Facebook, com mais de 2,9 mil interações.

A estudante estava entre o Centro de Educação e o Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) do campus Recife da universidade quando foi agredida fisicamente.

“Ainda estou psicologicamente afetada. Jogaram primeiro uma pedra. Não bateu em mim. Quando eu olho, já foram me agredindo no rosto. Eu perdi a visão, não consegui identificar quem eram os agressores”, contou a estudante ao G1, ressaltando o caso de transfobia que sofreu antes da agressão física.

Dália registrou, neste sábado (24), boletim de ocorrência na Central de Plantões da Capital, no bairro de Campo Grande, na Zona Norte do Recife, e foi encaminhada para fazer o exame de corpo de delito. O caso vai ser investigado pela Polícia Civil.

Dalia 5Desde Olinda, Pernambuco, Dália Celeste Hortense da Costa  postou, na madrugada deste sábado, 24 (1h38),  aseguinte nota em sua página no Facebook:

“feito passarinho fora da gaiola, eu não sei da ré. abri minhas asas dentro desse mundo, sou feita de barro, preta e mulher. aprendi mesmo foi a voar sozinha. quaseafundei, mais nega sereia sabe nadar.”

Hoje no término de minhas aulas em um dos pré-vest na UFPE, houve um evento no CE (centro de educação) voltado a comunidade LGBT, evento cultural formado pela diretoria LGBT da universidade. o qual resolvi ficar por algumas horas antes de vim para casa. no decorrer da ação, encontrei amigxs no local, e transitei pelo espaço onde a festa estava em aberto. ao parar próximo ao pólo onde se encontrava os DJs, fui abordada por um sujeito homem cis que interrogou se eu era mulher ou não, olhando para mim e minhas amigas, afirmei ser mulher. o mesmo debochou, imediatamente olho para o homem e falo: diga se eu não sou mulher! diz olhando para mim e afirme que eu não sou mulher. como eu estava entre amigos, o sujeito saiu. em seguida ouvi relatos que o indivíduo ameaçava e reproduzia misoginia e transfobia sobre os corpos das naquele ambiente, e que já era permanente essa ação. Imediatamente, sigo ao pólo, param as músicas e denuncio a transfobia, relato tudo o que passei, vindo de um homem cis, em um espaço que era voltado a lgbt’s. e permaneço na festa. ao retornar para casa, a caminho da parada de ônibus, jogam uma pedra. ( joga pedra na geni) e antes que eu pare para vê a direção do ataque, sou abordada por dois homens que me batem no rosto ao ponto em que perco a visão, em seguida levo murros que não consigo contar a sequência, até que em uma tentativa certa consigo correr. eu estava sozinha indo para a parada? sim! tinham pessoas na festa? sim! alguém viu? não sei. alguém ajudou? não! após a primeira agressão verbal algumas pessoas me chamaram para ir embora, falei q iria minutos depois. ( a gt nunca espera ser o próximo/a). batiam no meu rosto, apalpavam minha bunda, corpo bom pra pegar, corpo bom p apanhar. carne barata e sem dono. carne que batem pq é bom. corpo violado pq não tem regras.mulher feito eu, é bom p bater, matar. – quebra o rosto dela! foi a ultima frase que ouvi. fazia que eu não chorava, e hoje eu chorei, chorei com vergonha de chegar em casa e olhar para minha mãe com um rosto que não é meu. mulher negra, trans, feminista e periférica. humilhada, agredida e assediada.hoje me sinto sem forças p

REAÇÃO 

Em nota, a DiretoriaLGBT da UFPE, órgão ligado ao Gabinete do Reitor e responsável pelo acolhimento, inserção e permanência dessa população na universidade expressou “total indignação por mais um lamentável episódio de transfobia”.

O órgão informou que o aulão realizado em frente ao Centro de Educação foi um evento de incentivo às manifestações artísticas e culturais promovidas pelas pessoas LGBTs da UFPE.

“Na ocasião, fomos procuradas por uma estudante do Vestibular Solidário, cursinho preparatório para o ENEM, que nos informou que havia sofrido discriminação e violência verbal/ simbólica por parte de um homem cisgênero ainda não identificado. De imediato, paramos as apresentações e repudiamos publicamente e enfaticamente as atitudes do agressor”, diz a nota.

A universidade informou que “não tolera qualquer tipo de discriminação e violência contra a população LGBT, em especial as pessoas trans e as travestis”.

Dalia Costa 1

NOTÍCIAS DE DALIA 

Na noite deste domingo, 25, Dalia Costa postou novamente no Facebook:

“Boa noite!
Após todos os fatos ocorridos meu face foi bloqueado.
só agora tive acesso, porém estou evitando o uso das redes sociais.
mas logo irei me posicionar sobre tudo, peço entendimento as pessoas que ainda não respondi, e sou imensamente grata aos amigos, conhecidos e desconhecidos pelo apoio e palavras de conforto que estão me encaminhando, e a todos que estão me

ajudando nesse momento.” 

SOU MULHER TRANS, POBRE, PRETA, FEMINISTA E PERIFÉRICA.

E AGORA EU VOU FALAR.
SEREIA CANTA QUANDO O MAR ESTÁ VIOLENTO.

E A VAI TER QUE ME OUVIR.

JOGAM E TUDO VIRA CINZA, ELES DIZEM QUE O CINZA É O FIM E TEM COR DE DOR.
MAS MULHER PRETA RESNASCE É DAS CINZAS, E CINZA P MIM É O INÍCIO DA COR.”

Dalia 2

ANOTE AÍ:

Fontes desta matéria, editada por : Página de Dalia Costa no Facebook, Geledés,  G1,

 As fotos são todas da página de Dalia Costa no Facebook

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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