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MORTE DE JESUS: UMA METÁFORA PARA TODAS AS CONDENAÇÕES INJUSTAS

A morte de Jesus não é apenas um episódio histórico, ocorrido há cerca de dois mil anos atrás; ela é metáfora para todas as execuções, para as condenações injustas, para os sistemas perpetuadores das desigualdades, para a violência da multidão manipulada, para a perda de daqueles e daquelas que se deixam levar pela orda – e zombam, condenam e pedem a morte de inocentes – do passado e do presente. 

Por Lusmarina Campos Garcia, no Facebook

A noite caiu e o torturado, maltratado, morto, foi retirado da cruz.

O corpo amado por tantos e odiado por outros foi levado ao sepulcro por pessoas desoladas e assustadas, pois ser associada com aquele morto era um risco. O ódio do sistema que o condenou tornou o cuidado pelo corpo e o processo de luto, uma tarefa perigosa.

Aquele que tinha trazido e esperança para tanta gente foi transformado num bandido a quem a multidão exigiu que fosse morto. A multidão, que esgoelou-se em xingamentos e urrou pedindo a crucificação, era a mesma que, pouco tempo antes, havia recebido Jesus com palmas, cantos, mantos e louvores.

Aquela gente que foi capaz de sentir e experimentar que outro mundo era possível, através das ações e das palavras do homem preto de Nazaré, se voltou contra ele e pediu a sua morte. Como? Por que?

Técnicas de manipulação de massa existem desde antes do período em que Jesus viveu na Palestina/. O Império Romano utilizou-se de tais técnicas para influenciar e manipular o de modo que este passasse a odiar Jesus ao ponto de querê-lo morto.

O sistema imperial não gostou das propostas revolucionárias do preto de Nazaré, pois ao apregoar uma justa e igualitária, com distribuição de riqueza (milagre da multiplicação e jovem rico como exemplos), ele confrontou o modelo de acumulação e enriquecimento (de poucos) que sustentava o Império.

Deste modo, o Império utilizou-se dos juízes e religiosos da época para promover a acusação falsa, o juízo injusto, a condenação arbitrária e a morte odiosa de um homem inocente. 

Jesus morreu pelos nossos pecados: o pecado da cegueira de quem não consegue ver que a injustiça profunda tem como base a desigualdade social e as discriminações;

O pecado de quem não entendeu que a proposta de Jesus é de uma sociedade distributiva dos recursos e das riquezas;

O pecado de justificar a desigualdade social com conceitos tais como meritocracia, que servem ao propósito de perpetuar a pobreza de milhões, a riqueza de poucos e os privilégios dos mais abastados;

O pecado dos que promovem o ódio, e distorcem o evangelho do amor e da compaixão;

O pecado de quem odeia e não percebe que ao fazê-lo, envenena-se a si mesmo e interrompe o amor;

O pecado de virar parte da multidão que perde a capacidade crítica e se junta à voz violenta daqueles que condenam injustamente e querem o sangue de quem é inocente. 

A morte de Jesus não é apenas um episódio histórico, ocorrido há cerca de dois mil anos atrás; ela é metáfora para todas as execuções, para as condenações injustas, para os sistemas perpetuadores das desigualdades, para a violência da multidão manipulada, para a perda de humanidade daqueles e daquelas que se deixam levar pela orda – e zombam, condenam e pedem a morte de inocentes – do passado e do presente. 

Qualquer semelhança com o que está acontecendo no Brasil, não é mera coincidência.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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