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Ecossistemas

Ecossistemas tropicais abrigam mais de 3/4 de todas as espécies de plantas e animais do planeta, diz estudo

Hiperdiversidade tropical

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Mais de 90% das espécies de pássaros habitam a região tropical do planeta. Foto: Alexander Lees

Embora cubram 40% do planeta, os ecossistemas tropicais abrigam mais de três quartos de todas as espécies de animais e plantas. É o que mostra o estudo The future of hyperdiverse tropical ecosystems (O futuro dos ecossistemas tropicais hiperdiversos), publicado na revista Nature. O trabalho analisou quatro ecossistemas tropicais: florestas, savanas, sistemas aquáticos e recifes de corais e contou com a participação de pesquisadores brasileiros.

Os descobriram que os ecossistemas tropicais abrigam quase todos os corais de águas rasas e mais de 90% das espécies de aves do . “Muitas delas não encontradas em nenhum outro lugar”, alerta Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental (PA), coautora do trabalho.

Não é novidade no meio científico que os ecossistemas tropicais abrigam uma vasta diversidade de espécies de plantas e animais e que são fundamentais para o de milhões de pessoas em todo o planeta. A novidade é que o grupo internacional de pesquisadores quantificou a biodiversidade presente em regiões tropicais e os resultados suscitam um alerta global para a necessidade de evitar a perda de espécies nos trópicos e de reverter danos já causados.

Números impressionantesQuadro riqueza tropical

O professor Jos Barlow, da de Lancaster (Reino Unido), autor principal do artigo, diz que o declínio da dos ecossistemas tropicais afeta o bem-estar de milhões de pessoas cujas necessidades básicas dependem desses sistemas. “Por exemplo, estima-se que 70% da precipitação na bacia do Rio da Prata, de 3,2 milhões de km², entre o Uruguai e a Argentina, venha da evaporação na Amazônia, na Região Norte do Brasil”, afirma o especialista.

Os números do estudo são impressionantes. O habitat de dez grupos animais e plantas, entre aves, anfíbios, peixes de água doce, mamíferos terrestres, formigas e outros, foram analisados e os ecossistemas tropicais abrigam pelos menos 60% da quantidade de espécies de oito desses grupos. Isso significa que nos trópicos são encontrados 91% das espécies de aves do planeta; 83% dos anfíbios; 81% dos peixes de água doce; 79% das espécies de formigas; 77% dos mamíferos terrestres; 75% das espécies de plantas; e 66% das espécies de peixes marinhos.

“Para se ter uma ideia da importância dessas regiões, mesmo as aves que não são nativas dos trópicos, se abrigam nesses ecossistemas por longos períodos em função do movimento migratório de determinadas espécies”, conta Cecília Leal, coautora do estudo, do Museu Paraense Emilio Goeldi.

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Recife de corais. Foto: Shaun Wilson

Ameaças nos trópicos

O grupo de especialistas mostra que os ambientes hiperdiversos, como são chamados os ecossistemas tropicais, vêm passando por uma série de estresses tanto no âmbito local, como desmatamento, extrativismo predatório, quanto global, como as . A soma desses problemas locais e globais trouxe ameaças e risco de de diversas espécies de animais.

Na Região Norte do Brasil, por exemplo, algumas espécies ameaçadas merecem destaque, segundo os especialistas. Há centenas de espécies de aves em risco de extinção, incluindo papagaio ararajuba (Guaruba guarouba) e gavião real (Harpia harpyja). Tem também a anta (Tapirus terrestris), o peixe-boi (Trichechus inunguis), a lontra (Ptenorua brasiliensis) e espécies de macaco, como uacari-branco (Cacajao calvus), todos com habitat natural na Amazônia e em risco de extinção.

Fortalecimento da ciência

O artigo faz uma revisão analítica de mais de uma centena de estudos nas áreas ambiental e social e propõe áreas-chave de ação para preservar os ambientes tropicais hiperdiversos. “Responsabilidade coletiva, estratégias diversificadas de da biodiversidade e inovação são três princípios fundamentais para transformar a saúde desses ecossistemas vitais”, afirma um dos autores do artigo, o pesquisador Toby Gardner, do Instituto de de Estocolmo (SEI).

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O pesquisador enfatiza que é preciso considerar a vasta base científica já existente no Brasil e no mundo para a promoção do desenvolvimento sustentável. Por outro lado, é preciso estar aberto às novas evidências e experiências, principalmente pesquisadores e tomadores de decisão. “Nas últimas décadas, houve um boom de propostas, inovações e insights sobre ciência, governança e gestão de ecossistemas tropicais”, completa.

Para Joice Ferreira, da Embrapa, parte da solução está no fortalecimento da capacidade das instituições de pesquisa nos trópicos. “Apesar de algumas exceções notáveis, como a Embrapa, a grande maioria dos dados e pesquisas está concentrada em países fora dos trópicos”, afirma a pesquisadora. O que, para ela, é uma fragilidade. “Espera-se que quem vive no Brasil, e particularmente na Amazônia, tenha o domínio do conhecimento sobre a região, mas não é o que acontece na maioria das vezes”, completa. Já o pesquisador Jos Barlow, da Universidade de Lancaster, afirma que os mercados externos têm um papel crítico no futuro dos trópicos e que as pressões precisam ser equilibradas pela ajuda internacional.

Os autores enfatizam ainda a dimensão internacional da pesquisa e a necessidade de ampliar e aprofundar redes e colaborações que combinem especialistas de diferentes países e disciplinas, tanto de instituições públicas quanto privadas. “Governos, empresas, investidores e organizações da civil têm na construção coletiva recursos preciosos para ações de conservação”, avaliam os pesquisadores, que trabalham em uma rede colaborativa de pesquisa na Amazônia há quase dez anos.

Veja o artigo  The future of hyperdiverse tropical ecosystems na Nature.

ANOTE AÍ

Fonte: Nossa Ciência

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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