25 de julho

Julho das Pretas: Nós, mulheres negras, resistiremos!

Julho das Pretas: Nós, , resistiremos!

Por Iêda Leal 

Somos nós, negras, as maiores vítimas de feminicídio no país. Dados publicados pelo Ministério da Justiça, em 2015, revelaram que 68,8% das mulheres assassinadas por agressão são negras. Nos últimos dez anos, o feminicídio entre as brancas caiu 10%, enquanto, no mesmo período, entre as mulheres negras, esse número aumentou 54,2%. É fácil identificar o quanto este país estruturalmente racista, misógino e sexista nos torna alvo constante da .

Neste sentido, mulheres organizadas construíram em 1992 a Rede de Mulheres Negras da e Caribe, que culminou na realização do 1° Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas, na cidade de Santo Domingo, na República Dominicana. Desde então, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o dia 25 de julho como o Dia Internacional das Mulheres Negras Latino-americanas e Caribenhas.

A partir dali o movimento de mulheres negras vem pautando a perversa situação social a que mulheres negras latino- americanas e caribenhas encontram-se expostas.

Essa articulação e mobilização resultaram na sanção da lei federal n°12.987, que determinou o dia 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Negra.

Tereza de Benguela foi uma líder quilombola que, durante o século XVIII, após o assassinato do companheiro, tornou- e a grande referência de das mulheres negras brasileiras, resistindo à escravização de negros e negras por duas décadas, sobrevivendo até 1770, quando a comunidade quilombola foi destruída, a população dizimada: os 79 negros e negras e 30 indígenas foram cruelmente assassinados(as) ou aprisionados(as).

Assim como Tereza, outras mulheres foram e continuam sendo importantes para a nossa trajetória. Somos mais de cinquenta milhões de negras, destas muitas se destacam pelas suas ações de combate diário à violência e à perversidade do racismo, dentre elas não podemos deixar de reverenciar algumas como Benedita da , Jurema Batista, Leci Brandão, Elisa Lucinda, , Elza Soares, Silvany Euclênio, Janira Sodré, Sueli Carneiro, Donas Marias e tantas e tantas que lutam pela .

Em foi articulada a Rede Goiana de Mulheres Negras que chamou o ato público Mulheres Negras Movem Goiás, no dia 25 de julho, no centro de Goiânia.

Na oportunidade, mulheres negras usaram a corporalidade e suas vozes para dizer que continuamos em marcha por equidade, igualdade de direitos e justiça! A continuidade de políticas públicas que garantam a reparação é extremamente necessária e urgente!

Resistiremos, assim como Teresa de Benguela. Neste julho das pretas mulheres negras moveram este país em todos os cantos para dizer que a luta é diária e não desistiremos! Vamos transformar as sementes deixadas por Lélia Gonzalez e Luiza Bairros em substâncias de luta contra o racismo e o sexismo. Contra toda forma de opressão, marcharemos! Julho das pretas!

25 de julhoIêda Leal
Coordenadora Nacional do Unificado – MNU
Vice Presidenta da CUT – Goiás

 

[smartslider3 slider=43]
 

Deixe seu comentário

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

REVISTA