Tito, o neto do Dr. Ulysses: Quando voto, lembro do meu avô

Quando voto, lembro do meu avô –

Natália Pesciotta

Na lembrança do neto, até o Dr. Ulysses era avô brincalhão

► Quando tinha apenas nove anos, Tito Enrique da Silva presenciou uma cena histórica. Seu avô, Ulysses Guimarães, anunciava com pompa a promulgação da nova Brasileira, que ele chamou de Constituição Cidadã, a primeira elaborada com a participação do povo. voto

“Declaro promulgado o documento da , da dignidade, da e da justiça social do ” – palavras do avô que até passam de vez em quando na TV.

Os aplausos e as palavras do avô e presidente da Assembleia Nacional Constituinte deixaram Tito, o neto caçula do “Dr. Ulysses” cheio de orgulho. Só que ele, ainda criança, não sabia bem, naquele dia 5 de outubro de 1988, a dimensão do que acontecia ali.

A “constituição cidadã”, a 7ª da do País, representava a transição da ditadura para a democracia, reconhecendo deveres e direitos do povo e instituindo o voto direto para todos os cargos dos poderes Executivo e Legislativo.

Não à toa, o economista e administrador paulistano Tito, agora com 39 anos, lembra-se do avô e seu legado quando vai à urna ou às ruas. “Hoje, poder digitar um número lá e escolher um candidato, independentemente de qual, é um orgulho que eu tenho dele”, diz.

E fiel ao que aprendeu em família, desde pequeno, ressalta a importância de todos pesquisarem bem e participarem do processo eleitoral de forma consciente.

Tantas perguntas… voto

O último de quatro netos tinha 14 anos quando o “Dr. Ulysses” morreu num acidente aéreo, em 1992. Por isso, lamenta em dobro o acontecimento. “Gostaria de ter feito tantas perguntas para ele, se entendesse mais sobre naquela época”, desabafa.

Onze vezes deputado federal e por três mandatos presidente da Câmara, Ulysses Guimarães foi um ícone do Movimento Democrático Brasileiro (MDB),o único partido de oposição durante os primeiros 15 anos da .

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Dona Mora e os quatro netos – Tito é o menorzinho (foto do arquivo familiar)

Foi também um dos principais protagonistas da campanha das “Diretas Já” em 1984. Participou também do movimento pelo impeachment do então presidente Fernando Collor, no mesmo ano em que ele morreu.

“Político tem medo do povo na rua” é uma das suas frases famosas do avô que figura entre as preferidas pelo neto, que ressalta: “povo na rua é a voz da democracia”.

Refúgio no sítio voto

Apesar de avô e neto não terem conversado muito sobre os destinos e preocupações com o País, a convivência entre os dois foi muito rica, principalmente no sítio em Juquitiba (SP).

Como o deputado morava em Brasília e a família em , as temporadas no sítio são as lembranças mais vivas para os descendentes. Tito se declara como o mais apegado aos avós Ulysses e Ida de Almeida, a “Dona Mora”.

“O sítio era nosso refúgio. Ele estava sempre fazendo piadas e as nossas vontades, mesmo tendo passado por um período de depressão. Eu não sabia. Quase não me lembro do meu avô sério”, diz Tito.

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Doutor Ulysses em seu maior momento histórico, ao promulgar a Constituição (foto: Agência Brasil)

Uma vez, em entrevista a Jô Soares, o político disse em tom bastante descontraído que era “um puta avô”, que o neto confirma sem dúvidas. Tito soube da fala, mas nunca encontrou a gravação.

“É uma pena. Eu sinto muita falta de ver imagens dele descontraído, dizendo bobagens, como era com a gente. Ficaram só os registros em que ele está sério”, lamenta. Como aquele em que promulga a Magna, exatamente 30 anos atrás, e que entrou para a história.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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