Brecht: “Como eu não me importei com ninguém…”

Parafraseando Bertolt Brecht: “Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo” 

Por Isabella Pope 

O abaixo é uma dessas coisas interessantes que surgem nos grupos de whatsszap, com crédito atribuído a uma ou outra pessoa, sem que seja possível verificar sua autenticidade. Ressalva feita, publicamos aqui o que encontramos, porque pode ser útil para a reflexão neste momento difícil da nossa conjuntura humana e nacional.

Primeiro declarou que preferia ter filho morto, a ter um filho gay, mas eu não me importei com isso. Eu não era um homosexual. Em seguida disse que negro não serve nem pra procriar, mas eu não importei com isso. Eu também não era negro.

Aí falou que a filha nasceu por causa de uma fraquejada, mas eu não me importei com isso. Todo fala umas besteiras. Então declarou publicamente apoio a um torturador, mas eu não me importei com isso. Eu nunca fui torturado.

Em seguida, bradou que a ditadura matou foi pouco, “deveria ter sido uns 30 mil.” Mas eu também não me importei com isso. Seus apoiadores debocharam de uma vereadora assassinada, mas eu não me importei com isso. Eu não a conhecia.

Seu parceiro afirmou acabar com 13o e férias, mas eu não acreditei nisso, pois ele nunca seria capaz. Por fim, me prometeu armas no lugar de emprego, pois assim eu estaria protegido.

Agora, eles estão gritando que vão matar “viado”. Agora, eles estão matando negros a facadas. Agora, eles estão protestando, Dando tiros para o alto Eu continuo não me importando.

Então eles cortaram meus direitos E me impediram de reclamar Aumentaram meus impostos E me ameaçaram se reclamar Levaram parentes e amigos E eu serei o próximo a quem irão levar

Mas já é tarde Como eu não me importei com ninguém Ninguém se importa comigo.

Texto atribuído a Isabella Pope, nos grupos de zap.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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