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Vandana Shiva: Raiz dos agrotóxicos está nos gases dos campos de concentração

Raiz dos Agrotóxicos está nos gases dos campos de concentração, diz Vandana Shiva

Do Brasil Debate 
Por Nadine Nascimento
Ativista relembra desastre em indústria química há 34 anos; 3 de dezembro tornou-se o dia de Luta Contra os Agrotóxicos
Em 3 de dezembro de 1984, um vazamento em um tanque subterrâneo da fábrica americana de agrotóxicos Union Carbide, na Índia, lançou ao ar 40 toneladas do gás isocianato de metila e causou o mais grave desastre industrial da história.
Em questão de poucas horas, uma nuvem letal se dispersou sobre a densamente povoada cidade de Bhopal, com 900 mil habitantes, matando mais de 8 mil pessoas e intoxicando 150 mil. As doenças crônicas geradas pelo contato com a substância deixaram um assombroso legado para gerações futuras. Por conta do episódio, o 3 de dezembro ficou conhecido como o Dia Internacional de Luta Contra os Agrotóxicos.
A filósofa e física indiana, Vandana Shiva considera a data um monumento “àqueles que perdemos em Bophal em 1984, e uma prestação de solidariedade com aqueles que ainda sofrem as consequências, incluindo crianças que nasceram com malformações décadas depois, e as mulheres que nunca desistiram”.
A veterana ativista, que recebeu o Prêmio Right Liverhood (conhecido como o Nobel Alternativo) em 1993, é uma firme opositora das monoculturas e das sementes tratadas geneticamente. Vandana lembra que a raiz dos agrotóxicos, amplamente utilizados nesse tipo de agricultura, está nos gases dos campos de concentração da Alemanha nazista.
“Bophal mostrou que agrotóxicos matam. O relatório da ONU sobre alimentos diz que 200 mil pessoas morrem anualmente intoxicadas. Pesticidas e agrotóxicos estão levando espécies à extinção”, lamenta.
Para a ecofeminista, 3 de dezembro mostra que apesar do grande poder do “Cartel do Veneno”, referindo-se às multinacionais que comandam o mercado de agrotóxicos, “a verdade sempre aparece”.
“Bayer comprou a Monsanto e, pouco tempo depois, soubemos do caso de câncer de Johnson, que processou a empresa e a fez perder 35% de seu valor de mercado.” A ambientalista se refere ao caso de Dewayne Johnson,paciente terminal de câncer que venceu uma batalha judicial contra a Monsanto, condenando-a a pagar US$ 289 milhões em danos para sua família, em agosto deste ano. Segundo o zelador e jardineiro de uma escola na Califórnia nos EUA, o herbicida Roundup da empresa, que usa o princípio ativo glifosato, causou sua doença.
Alternativa
Em Sikkim, uma pequena região da Índia localizada no Himalaia, a realidade de Bophal é distante. O estado ganhou em 2018 o prêmio de Políticas para o Futuro da FAO, a Organização das Nações Unidas para a alimentação, por se tornar o primeiro estado totalmente orgânico do mundo.
Em 2015, Sikkim alcançou o marco revolucionário depois de conseguir converter seus mais de 60 mil agricultores a adotarem práticas agroecológicas, além de implementar a eliminação progressiva de fertilizantes e pesticidas químicos e a proibição total da venda e uso de agrotóxicos.
Shiva, que é natural da região do Himalaia, acredita que o feito de Sikkim e a produção de alimentos de maneira sustentável estão diretamente relacionados à vontade política. “O primeiro ministro do estado, Pawam Chamling, que trabalhou para fazer Sikkim 100% orgânica, é comprometido em proteger a natureza, a cultura de montanha do estado do Himalaia, os meios de subsistência dos agricultores e a soberania alimentar”, considera.
“Estamos trabalhando próximos a ele para fazer o Himalaia totalmente orgânico. Trabalhando também com movimentos ao redor do mundo para que a gente produza uma agricultura e alimentos livres de agrotóxicos em todo o planeta”, continua.
Em sua opinião, qualquer lei que passa a reduzir o uso de agrotóxicos, como é o caso da Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA) do Brasil – projeto de lei que aguarda votação em Comissão Especial da Câmara de Deputados – “é uma lei para proteger a vida e a terra, direitos dos agricultores, e a saúde humana.”
Vandana estará no Brasil em dezembro para I Seminário Internacional e III Seminário Nacional: Agrotóxicos, Impactos Socioambientais e Direitos Humanos, e convida todos aqueles “preocupados com os direitos da Terra e os direitos humanos” a participarem do encontro que será realizado na cidade de Goiás (GO), entre os dias 10 e 13.
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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