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Eliseu Neto

ELISEU NETO: PRESENTE!

ELISEU NETO: PRESENTE!

Na noite desta terça-feira (21) fomos inundados com a triste notícia de falecimento do psicanalista, psicólogo  e ativista Eliseu Neto. Mente corajosa, Neto nunca saiu das trincheiras em busca por direitos para a comunidade LGBTQIA+.

Por Arthur Wentz e Silva

Ainda na semana passada falamos sobre o Dia Internacional de Combate à LGBTfobia. Abordamos os desafios e conquistas dos últimos tempos. Nessa jornada de embates, é inegável o papel de Eliseu Neto para a consolidação de muitos dos direitos da comunidade no Brasil. Foi ele o responsável pela liderança da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) no Supremo Tribunal Federal (STF) que criminalizou a homotransfobia. Perspicaz, utilizou do STF como veículo para a garantia de direitos e assumiu responsabilidade em lutas sérias, como a proibição da doação de sangue por homossexuais. 

Nos últimos dias, Eliseu fez posts em suas redes sociais solicitando ajuda para custear fisioterapias. Na ocasião, ele havia sido diagnosticado com uma doença autoimune. 

Amigos e lideranças lamentaram a morte de Neto. Daniela Mercury declarou a importância do escritor para a conquista de direitos e mandou “solidariedade para a família e os amigos”. A deputada federal pelo PSOL/SP e ativista, Erika Hilton, também manifestou pesar e lamentou a morte. Em suas palavras:

“Eliseu foi autor, professor universitário, liderança do Cidadania e responsável pela criminalização da LGBTFobia no STF. Aos seus amigos, familiares e aliados, meu pesar e meus sentimentos. Que sua memória siga viva na luta pela igualdade de direitos, pela não discriminação e pelo direito fundamental de ser e de amar”

Em nota, o Cidadania — partido de Eliseu —  mencionou:

Sua dedicação e comprometimento com a justiça e a igualdade foram exemplares. Sentiremos profundamente sua falta, mas seu legado continuará a inspirar nossa luta por uma sociedade mais justa e inclusiva.

O legado de Eliseu segue marcado nas lutas e conquistas da comunidade LGBTQIA+. Seu DNA segue impresso em nossa história como aquele cuja coragem nos garantiu o início de uma vida plena e digna. Seguimos daqui fazendo de sua luta, uma jornada diária em busca de liberdade para ser quem se é e amar quem se ama. Desejamos conforto aos amigos e familiares e lembramos que é uma perda significativa para o Brasil. 

Eliseu Neto, presente!

Arthur Wentz e Silva é estudante de Letras – Língua Portuguesa e Respectiva Literatura, na Universidade de Brasília (UnB) e redator da Revista Xapuri.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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