Brasília Após repercussão, escola com gestão militar no DF refaz mural com rosto de Mandela
Imagem do ex-presidente da África do Sul tinha sido coberta de branco a pedido da PM, segundo a direção. Frase de Pitágoras sobre educação e castigo foi adicionada ao mural.
Depois de apagar um grafite com o rosto do ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela – ícone da luta pela igualdade racial –, a direção do Centro Educacional 1 da Estrutural, no Distrito Federal, decidiu refazer a imagem (veja acima). A obra ficava no pátio interno de uma das escolas do DF que terá educação militar em 2019.
O caso foi revelado pelo G1 e, após a repercussão negativa, a parede ganhou novos desenhos e voltou a estampar a famosa frase do político sul-africano. O grafite foi concluído nesta quinta-feira (14).
“Educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”
A pintura foi feita pelo mesmo grupo de artistas voluntários do Paranoá que tinha decorado o muro no ano anterior (veja acima). Os grafiteiros acrescentaram, dessa vez, os rostos da poetisa brasileira Cora Coralina e do educador Paulo Freire.
Segundo a diretora da escola, Estela Accioly, tanto a decisão para apagar a imagem anterior, como a de refazer o mural, vieram da atual gestão compartilhada com a Polícia Militar. “Colocamos em um muro mais bem posicionado, no pátio interno da escola”, explica.
No entanto, quando o grafite foi apagado, a PM do DF informou que “não tinha participado da decisão”. Questionada, a corporação também não deu mais detalhes sobre a reforma realizada no colégio.
[smartslider3 slider=25]
‘Educar para não punir’
Além dos desenhos, o muro da escola ganhou a frase atribuída ao filósofo e matemático grego Pitágoras.
“Educai as crianças e não será preciso castigar os homens”.
A escolha, segundo a diretora, também foi uma “sugestão compartilhada” e faz referência ao “bom senso e ao que a escola busca”, diz. “Seguimos a decisão de pintar o muro para comunidade perceber que a escola agora é um colégio da PM”.
“A frase [de Pitágoras] representa a educação, as crianças e a disciplina.”
Na fachada externa da escola, o que era um “mural da inclusão” também se tornou um muro branco. Agora, ele estampa o nome do “Colégio da Polícia Militar” em letras garrafais.
A direção da escola informou que a arte anterior era composta por desenhos de crianças obesas, cadeirantes e/ou com algum tipo de deficiência. “Os alunos se identificavam e se sentiam representados”, afirma Estela.
“Queríamos aproximar nossos estudantes, e mostrar que a escola é para todos.”
Apesar de se dizer “triste” com a pintura do muro, a diretora afirma que a “educação inclusiva vai continuar no projeto pedagógico”, com ações de consciência racial e respeito à diversidade.
O projeto implementado nesta segunda-feira (11) no CED 1 ocorre também em outras três escolas do DF: em Ceilândia, Recanto das Emas e Sobradinho.
Segundo o GDF, essas regiões foram escolhidas para abrigar a iniciativa porque apresentam “alto índice de criminalidade” e têm estudantes com “baixo desempenho” escolar.
Caso o projeto piloto apresente bons resultados, a ideia deve ser incorporada em outras 36 escolas do DF. O custo para aplicação da proposta em cada escola é orçado em R$ 200 mil por ano. Essa despesa deverá ser custeada pela Secretaria de Segurança Pública.
Novo grafite exibe rosto e mesma frase apagada após início da gestão militar no CED 1 — Foto- Estela Accioly:Arquivo pessoal
Rosto de Nelson Mandela grafitado, em 2018, no CED 1 da Estrutural — Foto: Ana Elisa Santana/Arquivo pessoal
Frase atribuída a Pitágoras, matemático grego, foi pintada em muro de escola no DF — Foto: Estela Accioly/Arquivo pessoal
Paredes do CED 1, na Estrutural, foram pintadas de branco no 1º dia de educação militar na escola — Foto: Marília Marques/G1
Parede que abrigava rosto e frase de Nelson Mandela foi pintada de branco após projeto piloto de educação militar no CED1 — Foto: Marília Marques/G1
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!
PARCERIAS
CONTATO
posts relacionados
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CAIC BERNADO SAYÃO CEILÂNDIA MOSTRA A TRANSFORMAÇÃO POSSÍVEL
postado em
APRENDER A CONHECER, CONHECER PARA PRESERVAR
postado em
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS PARA A EDUCAÇÃO
postado em
XI JITOU TRAZ O TEMA DAS PEDAGOGIAS DA FLORESTA
postado em
MULHERES EDUCADORAS: AMAR O MUNDO E MUDAR A SOCIEDADE NOS INTERESSA MAIS
postado em
EDUCAÇÃO COMO PRIORIDADE
postado em
REVISTA
Usamos cookies em nosso site para oferecer a você a experiência mais relevante, lembrando suas preferências e visitas repetidas. Ao clicar em "Aceitar", você concorda com o uso de TODOS os cookies.
Este site usa cookies para melhorar a sua experiência enquanto navega pelo site. Destes, os cookies que são categorizados como necessários são armazenados no seu navegador, pois são essenciais para o funcionamento das funcionalidades básicas do site. Também usamos cookies de terceiros que nos ajudam a analisar e entender como você usa este site. Esses cookies serão armazenados em seu navegador apenas com o seu consentimento. Você também tem a opção de cancelar esses cookies. Porém, a desativação de alguns desses cookies pode afetar sua experiência de navegação.
Os cookies funcionais ajudam a realizar certas funcionalidades, como compartilhar o conteúdo do site em plataformas de mídia social, coletar feedbacks e outros recursos de terceiros.
Os cookies de desempenho são usados para compreender e analisar os principais índices de desempenho do site, o que ajuda a fornecer uma melhor experiência do usuário para os visitantes.
Cookies analíticos são usados para entender como os visitantes interagem com o site. Esses cookies ajudam a fornecer informações sobre as métricas do número de visitantes, taxa de rejeição, origem do tráfego, etc.
Os cookies de publicidade são usados para fornecer aos visitantes anúncios e campanhas de marketing relevantes. Esses cookies rastreiam visitantes em sites e coletam informações para fornecer anúncios personalizados.
Os cookies necessários são absolutamente essenciais para o funcionamento adequado do site. Esses cookies garantem funcionalidades básicas e recursos de segurança do site, anonimamentey.