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MILENAR ARTE

A MILENAR ARTE DE EDUCAR DOS POVOS INDÍGENAS

A milenar de educar dos povos indígenas
 
Educar é dar sentido. É dar sentido ao nosso estar no mundo. Nossos corpos precisam desse sentido para se realizar plenamente. Mas também nossos corpos são vazios de imagens e elas precisam fazer parte da nossa mente para possamos dar respostas ao que se nos apresenta diuturnamente como desafios da existência. É por isso que não basta dar alimento apenas ao corpo, é preciso também alimentar a , o espírito. Sem comida o corpo enfraquece e sem sentido é a alma que se entrega ao vazio da existência.
Por Daniel Munduruku

A tradicional entre os povos indígenas se preocupa com esta tríplice necessidade: do corpo, da mente e do espírito. É uma preocupação que entende o corpo como algo prenhe de necessidades para poder se manter vivo.

Esta visão de educação é sustentada pela ideia de que cada ser humano precisa viver intensamente seu momento. A indígena é, então, provocada para ser radicalmente criança. Não se pergunta nunca a ela o que pretende ser quando crescer. Ela sabe que nada será se não viver plenamente seu ser infantil. Nada será por que já é. Não precisará esperar crescer para ser alguém.

Para ela é apresentado o desafio de viver plenamente seu ser infantil para que depois, quando estiver vivendo outra fase da vida, não se sinta vazia de infância. A ela são oferecidas atividades educativas para que aprenda enquanto brinca e brinque enquanto aprende num processo contínuo que irá fazê-la perceber que tudo faz parte de uma grande teia que se une ao infinito.

Fonte: Contioutra

Matéria publicada originalmente em 16/02/2020

Fotos:  Capa – : Eduardo Pereira. Daniel Munduruku – EBC/Divulgação  

A MILENAR ARTE

DANIEL MUNDURUKU 

Daniel Munduruku (Belém, 28 de fevereiro de 1964) é um escritor, professor, ator e ativista indígena brasileiro originário do Povo Munduruku. Autor de 62 livros, suas obras literárias são sobretudo dirigidas aos públicos infantil e juvenil tendo como tema principal a diversidade cultural indígena. Daniel é um defensor ativo dos direitos dos povos indígenas desde os anos 90 e tem trabalhado para promover a Indígena e a conscientização sobre a importância das culturas indígenas do Brasil. Em 2023, interpretou o Jurecê na novela Terra e Paixão da Rede Globo.

Militante político, Munduruku é membro do Partido Democrático Trabalhista (PDT), partido de Mário Juruna primeiro Deputado Federal indígena da história do Brasil, Darcy Ribeiro, Leonel Brizola, Lélia Gonzales e Abdias do Nascimento. Pela legenda Daniel Munduruku concorreu à deputado federal por São Paulo em 2022, não sendo eleito. Nas de 2020 foi candidato a prefeito na cidade de Lorena, alcançando o terceiro lugar.

Além de sua atividade literária, ele também atua como professor e palestrante, promovendo uma visão atualizada dos povos indígenas brasileiros.

Biografia

Daniel Munduruku graduou-se em Filosofia, História e Psicologia pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), tem mestrado em antropologia social e doutorado em educação pela Universidade de São Paulo, pós-doutorado em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Foi fundador do Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual (INBRAPI) e um dos criadores do Encontro Nacional de Escritores e Artistas Indígenas que existe há quase duas décadas.

Hoje é diretor-presidente do Instituto Uk’a – Casa dos Saberes Ancestrais na cidade de Lorena, ONG e selo editorial especializados na temática indígena, é também membro da Academia de Letras de Lorena. Daniel já recebeu a comenda da Ordem do Mérito Cultural por duas vezes, em 2013 na categoria da Grã Cruz do Ministério da Cultura, maior honraria oficial que um civil pode receber na área cultural.

Autor premiado no Brasil e no exterior Daniel já conquistou prêmios como: Prêmio Jabuti por duas vezes, Prêmio da Academia Brasileira de Letras de melhor livro infantil, Prêmio Érico Vanucci Mendes (CNPq), Prêmio UNESCO – Madanjeet Singh para a promoção da tolerância e da não-violência . Muitos de seus livros receberam o selo Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ.

Obras publicadas

  • Histórias de índio, Companhia das Letrinhas, 1997
  • O caráter educativo do movimento indígena brasileiro – 1970-1990, 2012 – Paulinas
  • Meu vô Apolinário, 2001, Studio Nobel, ISBN 8585445955
  • As serpentes que roubaram a noite e outros , 2001 – Editoria Peirópolis
  • O ovo que dançou, 2002 – Brinque Book
  • Kabá Darebü, 2002 – Brinque Book
  • Coisas de índio, 2000 – Callis Editora
  • O sinal do pajé, 2003 – Peirópolis
  • Coisas de índio – versão infantil, 2003 – Callis editora
  • O sinal do pajé, 2003, Peirópolis, ISBN 8575960067
  • Histórias que eu ouvi e gosto de contar, 2004, Callis Editora ISBN 8574162264
  • Contos indígenas brasileiros, 2005 – Global Editora
  • O segredo da chuva, Ed. Ática, 2006, ISBN 9788508087440
  • O sumiço da noite, 2006 – Caramelo
  • Caçadores de aventuras, 2006 – CARAMELO
  • Catando piolhos contando histórias, 2006 – Brinque-Book
  • Histórias que eu vivi e gosto de contar, 2006 – Callis Editora.
  • Parece que foi ontem, 2006 – Global Editora
  • Sabedoria das águas, 2006 – Studio Nobel
  • O sumiço da noite, 2006, Caramelo, ISBN 8573405058
  • O onça, 2006. Caramelo.
  • A primeira estrela que vejo é a estrela do meu desejo e outras histórias indígenas de , 2007 – Global Editora
  • As peripécias do Jabuti, 2007 – Mercuryo Jovem
  • O Menino e o pardal, 2007 – Callis Editora
  • O olho bom do menino, 2007 – Brinque-Book
  • O homem que roubava horas, 2007 – Brinque Book
  • A palavra do Grande Chefe, 2008 – Global Editora
  • Outras tantas histórias Indígenas de origem das coisas e do universo, 2008 – Global Editora
  • O Karaíba – 2010 – Editora Amarilys (Manole)
  • A caveira-rolante, a mulher-lesma e outras histórias indígenas de assustar, 2010 – Global Editora
  • Como surgiu – mitos indígenas brasileiros, 2011 – Callis Editora
  • Crônicas de São Paulo, 2011 – Callis Editora Limited
  • Histórias que eu Li e gosto de contar, 2011 – Callis editora
  • O Banquete dos Deuses: Conversa Sobre a Origem e a , 2000 – Global Editora
  • O olho da águia, 2013 – Leya
  • Karú Tarú – O pequeno Pajé, 2013 – EDELBRA
  • O mistério da estrela vésper, 2014 – Leya
  • Das Coisas que Aprendi – 1a. Edição, 2014 – Uka Editorial
  • Foi Vovó que disse, 2014 – EDELBRA
  • Memórias de Índio – uma quase autobiografia, 2016 – EDELBRA
  • Das Coisas que Aprendi – 2a. Edição, 2018 – Uka Editorial
  • Mundurukando 2 – 2018 – Uka Editorial
  • O olho bom do menino, 2019 – Editorial Uka
  • Mundurukando 1 – 2a. edição – 2020 – Editorial Uka
  • Crônicas indígenas para rir e refletir na escola, 2020 – Moderna

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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