O melhor curta brasileiro de todos os tempos

O melhor curta brasileiro de todos os

Ilha das  tem apenas 13 minutos, mas são alguns dos minutos mais famosos do brasileiro. Estudado há trinta anos em aulas de assuntos tão diversos quanto biologia, consciência ambiental, jornalismo e cinema, em escolas e faculdades, o curta-metragem documental de Jorge Furtado enfim ganhou oficialmente um título que já carregava no boca-a-boca: o de “melhor curta-metragem brasileiro de todos os tempos”.

Por Juliana Varella

Quem o concedeu a honraria foi a Associação Brasileira de Críticos de Cinema – Abraccine, que realizou uma entre críticos, professores e pesquisadores de diversas regiões do país como parte de um que culminará no livro Curta Brasileiro – 100 Filmes Essenciais, produzido em parceria com o Canal e a editora Letramento.

Ilha das Flores, vencedora do Urso de Prata em Berlim em 1990, ocupa o primeiro lugar contando a de um aterro sanitário em Porto Alegre, desde o comércio de legumes até o consumo, o descarte e o destino do doméstico entre porcos e pessoas que vivem às margens do “lixão”.

A lista também contempla nomes como Glauber Rocha, com o curta Di (1977), e Andrea Tonacci, com seu Blablablá (1968). A obra mais recente no compilado de 100 títulos é Guaxuma, de Nara Normande, lançado em 2018.O livro, organizado por Gabriel Carneiro e Paulo Henrique , está previsto para o segundo semestre de 2019 e será distribuído em formato de luxo, com ensaios detalhando cada um dos filmes, além de 20 artigos sobre a história do curta-metragem no Brasil.

O sobre filmes curtos completa a coleção 100 Melhores Filmes, que já conta com exemplares sobre o cinema brasileiro em geral, o documentário e a animação nacionais.

Fontes: Veja/ Brasil247

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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