Alessandra Munduruku: Nunca existiu democracia para a população indígena
Alessandra Munduruku: “Nós, defensores da floresta, não estamos brigando só por nós, estamos brigando pelos animais, pela vida.” – Líder indígena Munduruku, Alessandra Korap critica o fato de a população indígena não ser consultada sobre decisões que impactam em seus territórios
Em entrevista a Renato Galeno, Alessandra destaca que a demarcação de terra indígena, embora esteja prevista no artigo 231 da Constituição Federal, não é cumprida, o que prejudica a população Munduruku, calculada em aproximadamente 14 mil pessoas somente no Alto Tapajós.
Impactos
Segundo a indígena, apenas na bacia do Tapajós, que abrange a região oeste do Pará e norte do Mato Grosso, já foram construídas quatro usinas: Sinop, Colíder, Teles Pires e São Manoel.
A construção de cada unidade afeta a rotina dos indígenas, que, muitas vezes, são impedidos de atravessar os rios e de pescar em determinadas áreas por causa das barragens. O impacto ambiental também é alto com a contaminação de peixes e o desmatamento.
“A Amazônia está doente e pedindo por socorro. O rio contaminado pelo mercúrio; as nascentes sendo exploradas pelo garimpo; plantações de soja e milho; portos, ferrovias, hidrelétricas. A Amazônia não aguenta isso”, questiona a líder.
Que desenvolvimento é esse que nos deixa sem terras, sem água, sem território? Para quem vou recorrer se hoje não somos ouvidos?
A falta de demarcação de terra causa a remoção de comunidades inteiras, que são obrigadas a deixar suas casas. “É o mesmo que você ser expulso de uma casa que está há muito tempo na sua família. Somos considerados invasores nas nossas próprias terras.
Aí eu pergunto: você ficaria quieto e deixaria que levassem sua casa? Temos a obrigação de defender o que é nosso, defender o rio, a floresta. Nós, defensores da floresta, não estamos brigando só por nós, estamos brigando pelos animais, pela vida.”