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Rosa: “Coragem – é o que o coração bate; se não, bate falso”

Rosa: “Coragem – é o que o coração bate; se não, bate falso” . Uma incrível filosofia de sobre amor e ódio nas páginas do Grande Sertão Veredas

Dispensa-se apresentações, não é? Grande Sertão, Guimarães Rosa, Riobaldo, Diadorim…

O bom é que estava relendo alguns trechos destacados nessas páginas de veredas e notei que Guimarães Rosa tece uma filosofia incrível sobre amor e ódio. Melhor ainda: o amor é sempre maior e mais forte nessa dualidade – mesmo entre as guerras dos bandos, mesmo entre acordos sociais de jagunços.

Claro que essa é só uma pequeníssima parte de toda a filosofia exposta no romance-mor, mas é sempre bom enxergar os pormenores, esse é um caminho para sentir a poesia, um caminho pro descanso na loucura.

1. Tudo está dentro de nós.

“O mal ou o bem, estão é em quem faz; não é no efeito que dão.”

“A gente tem de necessitar de aumentar a cabeça para o total.”

2. O pensamento, a ideia, ajuda a nossa vontade. Mas o que é maior que o miúdo? Muita coisa importante falta nome.

“Diz-que-direi ao senhor o que nem tanto é sabido: sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na ideia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas.”

3. A contradição que nos habita.

“Não sabe que quem é mesmo inteirado valente, no coração, esse também não pode deixar de ser bom?!”

4. Raiva pra quê? Bom é o amor.

“Mas, na ocasião, me lembrei dum conselho que Zé Bebelo um dia me tinha dado. Que era: que a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é.”

5. Será a luta entre razão e emoção?

“Ah, meu senhor! – como se o obedecer do amor não fosse sempre ao contrário…”

6. Me dá qualquer amor que eu preciso descansar.

“Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. Deus é que me sabe.”

7. Do que não deve-de.

“Demediu minha ideia: o ódio – é a gente se lembrar do que não deve-de; amor é a gente querendo achar o que é da gente.”

8. Tem que ser valente pra dar a mão.

“Homem com homem, de mãos dadas, só se a valentia deles for enorme. Aparecia que nós dois já estávamos cavalhando lado a lado, par a par, a vai-a-vida inteira. Que: coragem – é o que o coração bate; se não, bate falso.”

Precisamos mesmo de coragem pra seguir o coração. Lembrando que aqui é Riobaldo falando do seu amor crescente por Diadorim, uma mulher que ele acreditava ser homem.

No fim, amemos. Amém.

Fonte: obvious

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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