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MULHERES INDÍGENAS

MULHERES INDÍGENAS: GUERREIRAS DA RESISTÊNCIA

Mulheres Indígenas: Meio Milênio de Guerreira Resistência

Mais de 500 anos das primeiras invasões europeias em , do extermínio cruel, das justificativas perversas que buscavam encobrir a ganância e a maldade no coração do colonizador.

Por Narubia Werreria

Mais de 500 anos de comprovados massacre e opressão e o genocídio indígena não viraram história. Iniciamos 2019 com uma plataforma de governo anti-indígena, uma monstruosidade política que ousa violar o direito originário dos povos nativos desse país, que antes de ser consagrado na Federal do , foi consagrado nas entranhas dessas terras, onde estão deitados nossos milenares ancestrais.

Contudo, ainda hoje, lutamos contra a ganância sobre nossas áreas, seus minérios, suas riquezas. Ainda temos que mostrar que a nossa e modo de vida são preciosidades e não empecilhos ao “progresso”.

Ainda é preciso anunciar que cada vida, cada planta, cada animal têm direito a esse solo chamado Brasil. Que a onça pintada é dona dessas matas, que as árvores, peixes, aves são caras ao nosso universo. Que nós somos dessa terra, mais do que ela é nossa, por direito, por justiça, por lei e, sobretudo, por amor.

Escrevo de alma ferida ao brasileiro, pois hoje somos todos irmãos em nação e miscigenação, povo oprimido, escravos de governos que consomem nossa carne, nossos sonhos e nosso suor.

A esperança se converte em opressão a cada isca mordida pela população. Para os poderosos todos os privilégios e impunidade; para o povo, miséria, opressão e impiedade.

O novo presidente, em menos de sete dias de governo, com a transferência da responsabilidade de das Terras (TI) da Fundação Nacional do Índio para o Ministério da Agricultura, põe em risco os povos nativos, a fauna e a flora desse país, bem como todo o povo brasileiro, pois mais cedo ou mais tarde todos serão afetados pelo desequilíbrio ambiental, que poderá se agravar.

Mas nós seremos os primeiros a sofrer, ainda vivemos em comunhão com a e nossa integridade física, espiritual e sociocultural dependem dela.

Vem dela nosso principais meios de subsistência, assim como está nas matas, rios e terras, nossas referências existenciais. Sem os nossos territórios o sentido da nossa organização social e a nossa identidade cultural são gravemente afetados. Usurpar nossas terras é destruir nosso jeito único de ser e estar no planeta: um etnocídio.

Estudos comprovam que nós, povos indígenas, somos guardiões naturais das matas e animais que ainda resistem na natureza.

A Amazônia, em menos de 40 anos, foi desmatada em 20% de seu território, enquanto todas as TI juntas perderam apenas 1.9% das suas florestas originais.

No Sul, a Terra Indígena Mangueirinha protege as últimas florestas de araucárias nativas do mundo. Na Bahia, os Pataxós são guardiões dos remanescentes da maior da Mata Atlântica.

A Terra Indígena da Ilha do Bananal, no Tocantins, é morada de onças, tamanduás-bandeiras, e do grandioso pirarucu. Assim, as TI brasileiras protegem animais em perigo de extinção e são fontes de alimentos — ainda não provados pela maioria da população, como o muruci, a mangaba e o oiti — e guardam uma infinidade de plantas e ervas medicinais.

Não escrevo apenas pelo risco de perder a fauna, flora e os povos indígenas, é preciso anunciar o óbvio : sem floresta a vida acaba. É a floresta que ajuda a manter os ciclos das águas, que é fundamental para recarga do lençol freático e do controle da erosão e desertificação, além de ser reguladora do clima, sequestradora de e de combater a radiação solar.

Floresta é vida, desmatar sem responsabilidade social e ambiental vai custar um preço que não podemos pagar, vai custar muitas vidas e não só vidas indígenas.

Antes de chegarmos ao ponto de destruição em que eu não veja mais o verde das grandes áreas florestais, o pirarucu nos rios, nem ouça o turro soberano das onças na mata, lutaremos! 

E que nossas vidas sejam uma manifestação poderosa da natureza, pois prefiro dar o meu sangue a testemunhar a soberba devastadora e suicida do novo colonizador.

Fonte: A Media Corporation

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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