A nossa Identidade Cultural coletiva não é Fantasia
E como ousa nos silenciar quando se referem a nós indígenas mulheres apenas de corpos exóticos. Não somos as emocionais, queremos dizer aos músicos que, discriminação mata sem dizer no preconceito institucional e, dependendo do lugar. Vivenciamos cada absurdo que consideramos desumanas que se fosse ao contrário geraria muita revolta, mas são corpos indígenas, que sofrem essa violência.
E nós perguntamos: Porque nós indígenas somos lembrados apenas na época do carnaval como fantasia? Mais quando estamos manifestando lutando por nossos direitos o noticiário nos silencia e usa distorcidamente que estamos invadindo?
Porque quando nós indígenas sempre que expressamos nossa cultura/identidade com altivez, temos que escutar repetidamente, vocês são índios? Mas índio mesmo? Índio de verdade? Estão vestidos assim vão apresentar algum teatro? A cada pessoa que se dirige a nós com esta pergunta tão agressiva é uma tentativa de deslegitimar e silenciar a nossa identidade, pois não sabem o quanto o processo histórico de invasão nos deixou cicatrizes.
Porque na nossa sociedade, pessoas não indígenas, podem se utilizar de elementos ou identidades de outras culturas e isso será visto como “fofo e bonito”, e “exótico.” Mas, no momento em que um de nós indígena que é parte da cultura resolve exigir-nos o direito de falar a nossa língua, de praticar nossos rituais, danças e costumes da nossa tradição cultura milenar, de pintar corpo e pintar o rosto, usar vestimentas da nossa cultura que carrega significado para além do simbólico e sagrado, muitas vezes somos discriminados, temos que aguentar piadinhas estereotipadas, temos de aguentar críticas, como: lugar de índio é no mato é na aldeia, índio? E com celular, índio e viajando de avião. Não é vitimismo, o preconceito que sofremos é real, muitas das vezes somos motivo de gracinha, até sofremos agressões, preconceito e dependendo do lugar e com quem esbarramos, nossos corpos territórios são executadas, trazemos aqui a memória de duas meninas indígenas que sofreram violência.
Daiane Kaingang, Raissa Guarani Kaiowá, meninas jovens brutalmente assassinadas, estupradas neste ano de 2021 meninas que tiveram a vida interrompida pela Brutal violência…..
E segue a pergunta violenta! São índios? Índio mesmo? De verdade?
- Nossas lideranças não derramam sangue na luta pelo território de mentira
- O enfrentamento que fazemos nas ruas, BRs,/Congresso Nacional, e somos atacados violentamente com spray de pimenta, bomba de borracha, esta luta não é de mentira
- Crianças, jovens, mulheres são assassinados da beira da estrada não é de mentira
- O grande índice de suicido nos povos indígenas não é de mentira
- Sofremos racismo, e não é de mentira.
Se tudo isso não é de mentira somos povos indígenas/originários.
Nossa identidade não é um fetiche, se racismo reproduz aciona o gatilho da violência história cometida a nossos corpos a nossa existência.
Denunciamos a intolerância e o racismo, o racismo é uma forma violenta de delimitar as fronteiras dos lugares que o povo.
A nossa luta é anticolonial e
Anti Racista
Não calarão as nossas vozes coletivas e não silenciarão nosso corpo.
O nosso pertencimento está na nossa raiz de quem somos.
Nos últimos anos, falamos, ouvimos e defendemos a nossa causa, seja ela contra ou não de racismo de discriminação de gênero contra indígenas mulheres.
Nosso corpo é nosso território, nele existe o sagrado de existir de cada ANMIGA.
Portanto, a música é violenta e mata nossa identidade.
Dizemos não a essa prática.
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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