Nelson Sargento: 94 anos de vitalidade!

Nelson Sargento: 94 anos de vitalidade!

Por Herivelto Oliveira

Nem a idade o afasta dos palcos. O sambista carioca encara a rotina desgastante de hotéis e voos, escreve e ainda, tem para manter um canal no Youtube. Ao lado do rapper paulista Criolo está rodando o como uma série de shows.

O Brasil tem quase 600 mil pessoas com mais de 90 anos. Pode parecer muita gente, mas é menos de 0,3 % da população. Viver tanto assim é uma realidade reservada para poucos, e muitos que chegam lá tem problemas de mobilidade, mental comprometida, visão embaçada.

O Brasil de Cor conversou com um desses brasileiros que nasceu na década de 1920. É o sambista carioca Nelson Sargento, que aos 94 anos de idade não abandona o palco, encara a rotina desgastante de hotéis e voos, escreve e ainda, tem tempo para manter um canal no Youtube.

Para compreender a importância de Nelson Sargento, basta dizer que ele é um dos baluartes da Mangueira, de carioca, que é quatro anos mais nova do que ele. Além disso, quando ainda era adolescente, fez sua primeira parceria com o Mestre Cartola.

Quando faz um balanço de sua longa , Nelson Sargento tem muitos motivos pra comemorar, entre eles, ter sido o único sambista a ganhar o Kikito, maior prêmio do brasileiro. Este ano, foi convidado pelo rapper paulista e também sambista Criolo para uma série de shows pelo Brasil. Montaram o repertório e estão na estrada. Na passagem por Curitiba, foi gravada a entrevista abaixo:

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Herivelto Oliveira Jornalista há 30 anos, é formado em Social na Federal do Paraná. Em 1986, começou a carreira em televisão, primeiro como repórter e mais tarde, editor e apresentador. Trabalhou nas Redes Globo e Record. Em 2015, montou sua própria empresa, a Sobrequasetudo Comunicação e , especializada em media training. Em 2017, criou o Brasil de Cor, um canal para dar oportunidade e visibilidade a negros brasileiros

Fonte: Conexão Planeta


 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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