CLARICE JÁ SABIA DA ONDA: EMBELEZAR CABELOS BRANCOS

CLARICE JÁ SABIA DA ONDA: EMBELEZAR CABELOS BRANCOS

Clarice já sabia da onda: Embelezar cabelos brancos

Cabelos brancos podem se tornar sua coqueteria, seu motivo de atração. Mas precisam ser cuidados, enfeitados.

Por Clarice Lispector

OURO NO BRANCO – Para alourar os cabelos brancos, molhe-os com uma mistura de duzentos e cinquenta gramas de tintura de ruibarbo e duzentos e cinquenta gramas de água.

BRANQUEAR OS CABELOS BRANCOS – O feio dos cabelos brancos está no tom amarelado ou acinzentado. O que pode fazer para branqueá-los? Depois de lavá-los com xampu, lave-os com 1 litro de água ao qual você terá acrescentado 2 colheres (das de sopa) de água oxigenada.

PRATA NO BRANCO – Uma coisa linda em cabelos brancos é o reflexo prateado. E é tão fácil conseguir! Basta usar anil na água de lavá-los. Quanto anil? A mesma quantidade que daria certo na sua roupa branca.

Clarice Lispector (in memoriam) – em “Só para Mulheres – Conselhos, Receitas e Segredos”, organização Maria Aparecida Nunes, editora Rocco, 2008.

Biografia de Clarice Lispector

Clarice Lispector (1920-1977) foi um dos maiores nomes da do Século XX. Com seu romance inovador e com sua linguagem altamente poética, sua obra se destacou diante dos modelos narrativos tradicionais. Seu primeiro , “Perto do Coração Selvagem”, recebeu o Prêmio Graça Aranha.
e Adolescência

Clarice Lispector nasceu na aldeia de Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1920. Era filha de Pinkouss e Mania Lispector, casal de origem judaica que fugiu de seu país diante da perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa.

Ao chegarem ao fixaram residência em Maceió, Alagoas, onde morava Zaina, irmã de sua mãe. Clarice tinha apenas dois meses de idade. Por iniciativa de seu pai, todos mudaram o nome. Nascida Haya Pinkhasovna Lispector, passou a se chamar Clarice.

Depois, a família mudou-se para a cidade do Recife, onde Clarice passou sua infância no Bairro da Boa Vista. Aprendeu a ler e escrever muito nova e logo começou a escrever pequenos contos.

Foi aluna do grupo escolar João Barbalho, onde fez o curso primário. Estudou inglês e francês e cresceu ouvindo o idioma dos seus pais, o iídiche. Ingressou no Ginásio Pernambucano, o melhor colégio público da cidade.

Com 12 anos, Clarice mudou-se com a família para o Rio de Janeiro indo morar no Bairro da Tijuca. Ingressou no Colégio Sílvio Leite onde terminou o ginasial. Era frequentadora assídua da biblioteca.

Em 1941, Clarice ingressou na Faculdade Nacional de Direito e empregou-se como redatora da “Agência Nacional”. Depois, passou para o jornal “A Noite”. Em 1943 casou-se com o amigo de turma, Maury Gurgel Valente. Em 1944 formou-se em direito.

Primeiro livro

Em 1944, Clarice publicou seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, que retrata uma visão interiorizada do mundo da adolescência, que abriu uma nova tendência na literatura brasileira.

O romance provocou verdadeiro espanto na crítica e no público da época. Sua narrativa quebra a sequência de começo, meio e fim, assim como a ordem cronológica, e funde a prosa à .

A obra Perto do Coração Selvagem teve calorosa acolhida da crítica e, no mesmo ano, recebeu o Prêmio Graça Aranha.
Viagens e novas publicações

Ainda em 1944, Clarice Lispector acompanhou seu marido, diplomata de carreira, em viagens fora do Brasil. Sua primeira viagem foi para Nápoles, na Itália. Com a Europa em guerra, Clarice ingressou, como voluntária, na equipe de assistentes de enfermagem do hospital da Força Expedicionária Brasileira.

Em 1946, morando em Berna, Suíça, publicou O Lustre. Em 1949 publicou A Cidade Sitiada. Nesse mesmo ano, nasceu seu primeiro filho, Pedro. Dedicou-se a escrever contos e em 1952 lançou Alguns Contos.

Depois de seis meses na Inglaterra, em 1954, o casal foi para Washington, , onde nasceu seu segundo filho, Paulo. Nesse mesmo ano, seu livro Perto do Coração foi publicado em francês.
Jornalismo e Literatura Infantil

Em 1959, Clarice se separou do marido e retornou ao Rio de Janeiro, acompanhada de seus dois filhos. Logo começou a trabalhar no “Jornal Correio da Manhã”, assumindo a coluna “Correio Feminino”.

Em 1960 trabalhou no “Diário da Noite” com a coluna “Só Para Mulheres” e, nesse mesmo ano lançou Laços de Família, um livro de contos que recebeu o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro.

Em 1967 publicou O Mistério do Coelhinho Pensante, seu primeiro livro infantil, que recebeu o Prêmio Calunga, da Campanha Nacional da Criança.

Nesse mesmo ano, ao dormir com um cigarro aceso, Clarice Lispector sofreu várias queimaduras no corpo e na mão . Passou por cirurgias e vivia isolada, sempre escrevendo. No ano seguinte publicou crônicas no Jornal do Brasil.

Clarice passou a integrar o Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Livro. Era considerada uma “pessoa difícil”. Em 1976, pelo conjunto de sua obra, Clarice ganhou o primeiro prêmio do X Concurso Literário Nacional de Brasília.
Última publicação em

Em 1977, Clarice Lispector escreveu Hora da Estrela, sua última obra publicada em vida, na qual conta a história de Macabéa, uma moça do interior em busca de sobreviver na cidade grande.

A versão cinematográfica desse romance, dirigida por Suzana Amaral em 1985, conquistou os maiores prêmios do festival de cinema de Brasília e deu à atriz Marcélia Cartaxo, que fez o papel principal, o troféu Urso de Prata, em Berlim em 1986.

Características da obra de Clarice Lispector

Clarice Lispector fez parte da “Terceira Geração Modernista” ou “Geração de 45” – época de renovação das formas de expressão literária na prosa e, principalmente nos gêneros conto e romance.

Em busca de uma linguagem especial para expressar paixões e da alma, a escritora utilizou recursos técnicos modernos como a análise psicológica e o monólogo interior.

Clarice Lispector é considerada uma escritora intimista e psicológica, mas sua produção acaba por se envolver também em outros universos, sua obra é também social, filosófica e existencial.

As histórias de Clarice raramente têm um começo meio e fim. Sua ficção transcende o e o espaço, e os personagens, postos em situações limite, são com frequência femininas quase sempre situadas em centros urbanos.

Clarice Lispector nunca aceitou o rótulo de escritora feminista. Apesar disso, muitos de seus romances e contos têm como protagonistas personagens femininas, entre elas: Joana, de Perto do Coração Selvagem, Virgínia, de O Lustre, Lucrécia Neves, de A Cidade Sitiada e Macabéa, de A Hora da Estrela.
As cartas de Clarice

Clarice Lispector viveu quase duas décadas fora do Brasil e escreveu muitas cartas aos amigos, e com olhar cosmopolita ela fala sobre os absurdos do cotidiano, as agruras da condição humana e as banalidades da vida. Suas cartas foram reunidas na obra Todas as Cartas, publicada em 2020.

A amizade que manteve com o escritor Fernando Sabino também foi registrada no livro “Cartas Perto do Coração” (2001), que revela uma profunda ligação entre os dois. As cartas dela foram enviadas de Berna e de Washington, onde morou. Nelas, Clarice revela uma série de frustrações por estar longe de casa.

Clarice Lispector faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro de 1977, vítima de um câncer de ovário, um dia antes de seu aniversário. Seu corpo foi sepultado no cemitério Israelita do Caju.

Obras de Clarice Lispector

    Perto do Coração Selvagem, romance (1944)
    O Lustre, romance (1946)
    A Cidade Sitiada, romance (1949)
    Alguns Contos, contos (1952)
    Laços de Família, contos (1960)
    A Maçã no Escuro, romance (1961)
    A Paixão Segundo G.H., romance (1961)
    A Legião Estrangeira, contos e crônicas (1964)
    O Mistério do Coelho Pensante, literatura infantil (1967)
    A Mulher Que Matou os Peixes, literatura infantil (1969)
    Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres, romance (1969)
    Felicidade de Clandestina, contos (1971)
    Água Viva, romance (1973)
    Imitação da Rosa, contos (1973)
    A Via Crucis do Corpo, contos (1974)
    A Vida Íntima de Laura, literatura infantil (1974)
    A Hora da Estrela, romance (1977)
    A Bela e a Fera, contos (1978)

Fonte: E-biografias

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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