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Xô Bicho Intruso

Xô Bicho Intruso

Por TT Catalão (*)

Xô Bicho Intruso –
não sou sua presa,
nem refém muito menos
estou sob seu domínio
tosco, infame, escuso;

Vaza Bicho Intruso –
esse lugar não é seu, esse
corpo não lhe pertence,
não aceito seu assédio
nem permito seu abuso;

Sai Bicho Intruso –
não sou sua inspiração
nem autorizo seu mau
uso, me esquece que
não sou seu muso;

Suma Bicho Intruso –
dispenso seus apelos
obtusos, seus projetos
sórdidos e confusos,
a vc não me submeto
não me entrego
não me dobro,
não me quedo –
apático – recluso…

Se afasta Bicho Intruso –
a vc, de vc, por vc, em vc:
recuso recuso recuso

P.S. a caminho do meu primeiro dia de um longo tratamento imuno-terápico em solidária companhia de milhares de irmãozinhos e irmãzinhas em luta contra os cânceres. Na esperança de q Bichos Intrusos também deixem os corpos ambientais, culturais, sociais, econômicos e espirituais do …com AMOR, sempre, TT… quem não se abate: combate!

 

(*) A 20 de dezembro, o grande poeta da resistência, TT Catalão comunicou, em forma de poema, o início de sua luta contra o câncer. Na madrugada do dia 02 de janeiro de 2020, TT embarcou nas asas da quimera, rumo aos mistérios do infinito. Para Wanderley dos Santos Catalão, colaborador frequente da Xapuri, nossa admiração, nosso respeito, nossa gratidão e nossa saudade. Capa: TT Catalão, em seu último post. Foto interna: Memória e Invenção.

Fonte: Brasiliários com Edixão: Xapuri


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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