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O capitalismo é racista!

O capitalismo é racista!

Por Edson Ivo Moreira Martins

Ainda no século 19, durante a crise de 1873, que colocou a Europa em um estado de estagnação econômica, a pseudociência do Darwinismo Social criou a base que traria paz de espírito aos violentos conquistadores que buscariam fora de suas terras as riquezas necessárias para garantir a recuperação do crescimento inexistente à época graças à superacumulação do capital. O imperialismo, estabelecido à época, segundo o historiador argentino, residente no , Osvaldo Coggiola, foi uma solução criada sobre um alicerce eurocêntrico de progresso. Os povos da África precisavam ser “salvos de seu atraso natural”. Isso justificou assassinatos, pilhagem e escravo no continente (mesmo depois da abolição nas nações colonizadoras). Houve apoio até mesmo de setores da Internacional Socialista com seu discurso de obra civilizadora. Nesse período se usou o termo raça como ferramenta para se classificar as pessoas em categorias físicas e mentais específicas.

Não há necessidade de discorrer sobre o desdobrar dessa formada no mundo capitalista durante as duas grandes guerras e a crise de 1929. Até porque, mesmo durante o período do desenvolvimento da ideia do estado social keynesiano, ou estado de bem-estar social, o acesso aos direitos sociais não foi simétrico e a desigualdade permanece uma constante do sistema.

Sabemos que o banco é uma das instituições fundamentais da terceira fase do capitalismo, o capitalismo financeiro. E eu repito: o capitalismo é racista!

Dados do IBGE de 2018 mostram que 55,8% da população se declara preta ou parda. No entanto, segundo os dados do Censo da Diversidade da Febraban, em 2014 (a última pesquisa aconteceu em 2019, mas infelizmente os dados ainda não foram publicados) apenas 24,7% dos bancários do país eram pretos e pardos. Mas não para por aí. Já parou pra pensar em quantas vezes você, que está lendo este artigo, recebeu atendimento em uma agência bancária por uma pessoa negra? Quantas pessoas negras já te prestaram um serviço gerencial? Te parece que uma a cada 4 pessoas na linha de frente de um banco são negras? Os bancos admitem pouco, olhando a proporção da população e, quando admitem, aparentemente escondem nos bastidores. E essa razão se torna muito pior quando se sobe a escada da carreira bancária. São raros os cargos de superintendência, diretoria, vice-presidência e presidência ocupados por quem é de cor preta ou parda.

O estrutural, que é praticamente uma base do capitalismo, dificulta o acesso à formação, o que impacta na empregabilidade. No entanto não para por aí, uma vez que se mantém até hoje de forma velada a crença de superioridade racial que pautou o imperialismo. Quando se fala sobre ascensão em qualquer carreira, o caráter subjetivo das chamadas análises de perfil, sempre presentes nos processos seletivos, acabam por refletir o atraso real da opinião pública e condenar ao ostracismo quem quer que pertença a alguma rotulada minoria. Destaque para a palavra rotulada. Da última vez que eu chequei, 55,8% ainda eram maioria. É um conhecimento passado em cada casa deste país que a cor da sua pele e o tipo do seu cabelo vão definir quanto esforço você precisa fazer pra sair de um ponto e chegar a outro ponto qualquer da pirâmide social. No entanto, nos bancos, parece que nenhum esforço é grande o bastante se a sua cor é negra. Mas isso é tão fácil de entender quanto difícil de resolver: o banco é fundamental ao capitalismo, e o capitalismo é racista.

Captura de Tela 2020 08 12 a%CC%80s 17.19.10Edson Ivo Moreira Martins – Secretário de Combate à Discriminação no Sindicato dos Bancários Df

 

 

SOS XAVANTE

“UM SALVE A TODOS OS POVOS INDÍGENAS

E AOS E ÀS INDIGENISTAS QUE LABUTARAM E LABUTAM

EM DEFESA DA POPULAÇÃO INDÍGENA BRASILEIRA.”

Hugo Meireles Heringer –

BANCÁRIOS E BANCÁRIAS JUNTO COM O

NA LUTA PARA SALVAR VIDAS!

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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