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PACTO

PACTO

Façamos o pacto proposto pelo poeta Tião Pinheiro. O ano está começando é tempo de experimentar receitas novas, mas também de refazer as que deram certo: Tudo certo então/ Ficamos assim/ Ou mesmo não,/Vivamos enfim

 
Não deixemos
Que a impaciência
Que a intolerância
Desfaçam laços
Tão arduamente construídos;
 
Continue
Com a sua cor preferida
Com o seu time do coração
E com a sua ideologia política;
Não mude nada
O que lhe torna mais;
 
Não interrompa
O que lhe faz seguir,
Não acredite
O que lhe inquieta
E não aceite
O que é só provocação
 
Mantenha
Seu prato predileto
Sua trilha musical
E até as suas bizarras manias;
 
Não receite
O que não consegue fazer
Não aponte o dedo
Por que pode ser devolução
Não confie
No que precisa de jura
E não engula
O que só é negação;
 
Conserve
O melhor de sua essência
O melhor de suas crenças
E até um pouco de desconfiança;
Respeite
A diferença de um
A diferença do outro
E até a indiferença de tantos;
 
Tudo certo então
Ficamos assim
Ou mesmo não,
Vivamos enfim
Ou até quando for,
Não queira mudar
O que não vale ser,
 
Não espere
De quem de nada é
De quem nada tem,
Apenas siga
Apenas seja
Apenas sinta…
 

Tião Pinheiro

Tião Pinheiro – Jornalista, escritor, compositor, músico, poeta e Membro efetivo da ALANEG/RIDE – Academia de Letras e Artes do Nordeste Goiano, representando a Cidade de Monte Alegre de Goiás. É editor chefe do portal Jornal do Tocantins, do Jornal Daqui e coordenador da rádio CBN Tocantins, onde mora atualmente e atua reconhecidamente na cultura e comunicação de Tocantins.

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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