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Caminhar, Viver e Sonhar

CAMINHAR E BEM-VIVER

Caminhar e Viver

Desde que nascemos, começamos uma longa caminhada que evoca a criação. Há um Criador de todos os seres no mundo (Gn 1): “E viu que tudo era bom”. E esta caminhada continua, pois, o que o Criador sonhou para este mundo foi o Paraíso,  e este foi concretizado. Devido a  incoerência do ser humano que faz as escolhas erradas, achando  querer fazer o certo: “Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero” (Rm 7, 19-21)…

Por Pe. João de Deus de Souza

 Há muitas pessoas que antes de nós cultivaram a fé, a esperança e o amor e é por isso que aprendemos  a caminhar com esses pilares. Caminhar significa sair de si, encontrar com  os outros e juntos vencermos os vírus do egoísmo, dos preconceitos, da maldade, e da falta de cuidados com todos os seres vivos. 

São estes vírus que causam várias doenças psicossomáticas nesta . O ser humano é chamado a construir um outro  mundo possível, que evidentemente é necessário. Ao mesmo tempo em que caminha, ele constrói a e pode   transformar o mundo em que vive. 

Segundo Paulo Freire, o ser humano não caminha sozinho, mas na relação com os outros  e com o mundo, pois agindo sobre ele o transforma, o faz melhor ou pior, dependendo do conteúdo da sua ação. 

A palavra Utopia não está morta

O sonho faz parte do ser humano e este deve alimentar o seu ser ontológico sempre.  A pessoa que não sonha está morta. Utopia quer dizer denunciar um presente contraditório, desumano e intolerável e o anuncio de um a ser criado, construído, politica, estética e eticamente pelas e homens deste Planeta.

A sociedade capitalista determina o que a pessoa deve sonhar através dos ídolos: o ter, o poder, o prazer, o aparecer e esta é a razão da decadência desta sociedade, que transforma o homem no lobo do próprio homem segundo Hobbes. A expressão midiática alienante toma conta do imaginário popular impondo um modo de que segundo Frei Beto significa Globocolonização, a  qual dita o  modelo capitalista consumista.

Este modelo não tem nenhum interesse de que o ser humano busque um mundo melhor e visa impregnar nas pessoas um nojo pela que é a arte do bem comum. Este sistema, portanto, ensina que a ideologia do consumo e o individualismo competitivo tornam-se objetivos de vida, e o limite do sonho constitui-se naquilo que o dinheiro pode comprar, fundamentando-se assim nas  teorias da teologia da prosperidade. 

Diante desta máquina cruel e destruidora, é preciso caminhar na contramão e manter viva  a utopia, como sangue no coração. A utopia, segundo Eduardo Galeano, “está lá no horizonte, “Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. A utopia serve para isso: para  caminhar”.

Viver com Sabedoria

O sistema capitalista consumista impõe à desigualdade, a divisão, a competição, as injustiças, as violências, a superioridade, os preconceitos…

É preciso, pois, aprendermos a viver com sabedoria que significa a simplicidade, a humildade,  o senso critico, a alegria, o despojamento, a gratuidade, a gentileza, o perdão, a solidariedade, “ o cuidado para com todos os seres da comunidade de vida” segundo Leonardo Boff.  , afirma que  “A vida não é útil, pois,  viver é dançar com o cosmos” o que significa renunciar aos ídolos da sociedade capitalista: o ter, o poder, o prazer, o aparecer e buscar viver em comunhão com a mãe natureza, com os outros e com o Criador. 

Ele afirma que devemos aprender com a sabedoria dos povos   que sabem cultivar como filhos a relação harmoniosa com esta nossa grande mãe, a .  Eles sabem conversar com os quatro elementos da natureza: terra, água, e ar.

Devemos estar em comunhão com estes quatro elementos da nossa mãe natureza para assim podermos caminhar, viver e sonhar com  o paraíso. Vale ressaltar que esta vivência feliz depende das nossas escolhas em prol da vida de todos os seres vivos e  da nossa mãe natureza. 

Vida e Luta 

O grande compositor e cantor Gonzaguinha, de saudosa memória, nos deixou uma belíssima canção que retrata o viver. Todas as pessoas quando cantam esta música, além da alegria ficam com os olhos brilhando, pois a arte revela a vida. “Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz” (…). Sim.

A vida requer humildade para aprender sempre com as boas lições e vencermos nossas limitações. A vida é sinônimo de luta. É preciso  espernear, assim como desde o nascimento aprendemos.  A vida requer coragem para lutar. Não para competir e eliminar o outro,  mas para com ele irmanar, cooperar, vencer coletivamente como diz o conto africano Ubutun, “eu sou porque nós somos.”

É  preciso caminharmos juntos para vivermos bem e alimentarmos o nosso sonho de um mundo melhor, uma sociedade socialmente e economicamente justa e   um Planeta onde os seres humanos aprendam a respeitar  todas as formas de vida.

JOÃO DE DEUS DE SOUZA – Filósofo e Psicólogo. 

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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