Reserva Chico Mendes Ameaçada: Seguir Esperneando – Episódio 06

Reserva Chico Mendes Ameaçada: Seguir Esperneando – Episódio 06

❤️ LIVE SOLIDÁRIA RESERVA CHICO MENDES AMEAÇADA: Seguir Esperneando – Episódio 06 ⏰ Dia: 10/08, às 21h 📍 Mediadora: Ana Paula Sabino 🗣️ Participação: 📌 Gomercindo Rodrigues – Comitê Chico Mendes. Advogado 📌 Angela Mendes – Coordenadora do Comitê Chico Mendes


SEGUIR ESPERNEANDO – O PODCAST DA LUCÉLIA SANTOS
Episódio 06: Reserva Chico Mendes Ameaçada
Eu sou Lucélia Santos e você está no “Seguir Esperneando”, o meu podcast em parceria com a Revista Xapuri.
Neste sexto episódio, “RESERVA CHICO MENDES AMEAÇADA,  o advogado Gomercindo Rodrigues e eu denunciamos o  Projeto de Lei 6024,  porque ele   coloca em risco a biodiversidade e a vida humana na Amazônia.
Proposto pela bancada ruralista do Acre, o PL 6024 reduz os limites da Reserva Extrativista Chico Mendes e extingue o Parque Nacional da Serra do Divisor, no extremo oeste da Amazônia brasileira.
PL 6024
 Gomercindo Rodrigues:
Eu sou Gomercindo Rodrigues, conhecido como o Guma, amigo de Chico Mendes.
Eu estou aqui para me somar à Lucélia Santos na denúncia de mais um  PL que abre  as porteiras do Acre para o  latifúndio.
O projeto,  de autoria da deputada Mara Rocha (PSDB-AC), quer reduzir uma área de 22 mil hectares da Reserva Extrativista Chico Mendes, nos municípios de Xapuri, Brasileia e Epitaciolândia, todos aqui no Estado do Acre.
O PL  também propõe a extinção do PARNA, o Parque Nacional da Serra do Divisor, uma área de proteção integral com 8.463 quilômetros quadrados,  na fronteira do Brasil com o Peru.
Em seu lugar, propõe criar uma Área de Proteção Ambiental – APA, com regras ambientais muito mais flexíveis e fáceis de serem burladas.
O QUE ESTÁ EM JOGO
 Lucélia Santos:
O PL 6024 vem pra acabar com o que resta da Amazônia.
Este PL  libera a de gado e madeira dentro da Resex Chico Mendes, símbolo da luta e da resistência do Chico e de seus  companheiros extrativistas contra a destruição da Amazônia, eu inclusive estava junto nessa luta que vem desde os anos 70 e 80.
Ele  regulariza todas as invasões e legaliza todos os crimes cometidos na Reserva, favorecendo  a pecuária e promovendo o desmatamento, que cresceu 340% no ano de 2020.
Este PL ameaça a sobrevivência das comunidades extrativistas, dos povos da e  do  próprio legado de Chico Mendes.
Ele  coloca em risco a existência das populações que vivem nas cercanias do PARNA e constitui grave ameaça para a sobrevivência de milhares de espécies da fauna e da flora da região, grande parte delas ainda desconhecidas.  Muitas carregam em si princípios ativos que podem gerar remédios para os grandes males da .
O PL também abre caminho para outro crime ambiental gravíssimo: A construção, sem consulta pública, da rodovia entre as cidades de Cruzeiro do Sul, no Acre, e Pucallpa, no Peru.
Com a mudança do status de  Parque Nacional para APA, o Estado brasileiro fica dispensado de ouvir os povos indígenas sobre a execução de uma obra que mudará o destino de suas vidas e comunidades da pior forma possível.
IMPACTO IMEDIATO
 Gomercindo Rodrigues:
O impacto do projeto, mesmo ainda não tendo sido aprovado, tem sido muito forte no desmatamento e na venda de lotes ilegais na Resex Chico Mendes.
São  muitos os relatos de gente desmatando, criando gado, acabando com as áreas de floresta.
Essa situação crítica vem do descaso do governo federal, que tirou a maioria dos funcionários públicos da Reserva, deixando mais uma unidade de conservação abandonada.
A ausência deliberada do Estado brasileiro deixa o espaço aberto para a atuação de facções criminosas que, além do desmatamento e das queimadas, faz da Resex porta de entrada para tráfico de drogas e de armas.
Segundo moradores locais, o Ministério Público Federal do Acre já foi informado da presença de facções que operam no tráfico de drogas e de armas, e das ofensivas de desmatamento em toda a área da Reserva.
Há relatos também da pulverização de agrotóxicos sobre comunidades extrativistas dentro da própria Reserva.
VIOLÊNCIA E IMPUNIDADE
 Lucélia Santos:
A cada dia,  aumentam as denúncias de famílias extrativistas que estão sendo expulsas de suas casas no meio da floresta. 
É um pesadelo.
Parece que estamos voltando aos anos 70, quando fazendeiros do sul do país contrataram jagunços para expulsar os seringueiros de suas próprias colocações.
É com esssa lógica da , amparada pela certeza da impunidade, e agora também pela legalização da grilagem pelo PL 6024, que os 90.570 hectares da Reserva, criada em 1990 com a luta dos seringueiros,  e sobre o sangue do próprio Chico Mendes, que deu a vida por ela, vão sendo dizimados.
Para Angela Mendes, filha de Chico Mendes, o PL incentiva mais violência, mais invasões e mais degradação, dessa vez de forma mais agressiva, porque os grileiros sabem que a legalização da ocupação das terras públicas da Resex está bem perto de chegar.
Segundo Angela, a maioria das famílias extrativistas resistem à derrubada de suas seringueiras e castanheiras. Elas querem continuar protegendo o legado de Chico Mendes para seus filhos e netos.
Elas querem continuar trabalhando para construir uma economia sustentável na Resex.
Mas a pressão que vem de fora é muito grande, quase impossível de suportar.
 ATAQUES RECORRENTES
 Gomercindo Rodrigues:
Em outubro de 1985, os seringueiros criaram as Reservas Extrativistas,  no primeiro Encontro Nacional dos Seringueiros, em .
O conceito básico é: em vez de lotear a Amazônia em propriedades privadas, a terra das Resex continua sendo da União.
O uso, em comodato, fica com as famílias extrativistas, que podem extrair o seu sustento delas, mas não podem vender a propriedade, nem podem derrubar as árvores da floresta.
A proposta ganhou a adesão da sociedade nacional e internacional.
Poucos meses depois da do Chico Mendes, o governo brasileiro adotou o modelo das Reservas Extrativistas como pública do Estado brasileiro.
Em março de 1990, foram criadas as quatro primeiras reservas extrativistas do Brasil: Alto Juruá e Chico Mendes, no Acre, Ouro Preto, em Rondônia e Rio Cajari, no Amapá.
Nesses anos todos, o projeto expandiu. Hoje, o Brasil tem 66 Reservas Extravistas federais, que protegem uma área de 35 milhões de hectares.
Nesses anos todos, sempre teve  ataque às áreas de proteção ambiental sob a guarda de populações tradicionais.
Mas nunca, como agora, houve um ataque tão deliberado e tão articulado do governo federal com o para destruir o legado de Chico Mendes.
 CHICO MENDES
 Lucélia Santos:
“Se Chico Mendes ainda estivesse entre nós, teria escapado da morte muitas vezes, mas por certo iria morrer agora, de desgosto, só de ver o que estão fazendo com a floresta que ele tanto defendeu.”
Essa fala do , o editor da Xapuri, falecido neste 14 de julho, me faz pensar no que o Chico Mendes faria se estivesse aqui.
Ele com certeza estaria esperneando contra esse PL.
Então é isso que nós vamos fazer. Vamos nos juntar à Angela Mendes na Campanha: #PL6024Nao em defesa da Reserva Chico Mendes e todas as áreas de floresta do Brasil.
Duda Meirelles:
 “Seguir Esperneando” é mais um espaço de resistência da Revista Xapuri, construído em parceria com a atriz e militante Lucélia Santos.
Este episódio, “PL 6024, NÃO!”, resulta do esforço coletivo de Agamenon Torres; Ana Paula Sabino; Gomercindo Rodrigues, Janaina Faustino; Lucélia Santos;  Zezé Weiss; e eu, Duda Meirelles.
O roteiro deste podcast foi construído com base em informações coletadas nos acervos Comitê Chico Mendes; do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, o CNS; do Memorial Chico Mendes e da Revista Xapuri; e em pesquisas da Universidade Federal do Acre.
“Seguir Esperneando é patrocinado por: Bancários-DF – Sindicato dosBancários de Brasília; Fenae – Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômmica Federal; Fetec-CUT Centro Norte – Federação dosTrabalhadores em Empresas de Crédito do Cento Norte; e Sinpro/DF –Sindicato dos Professores no Distrito Federal.
Colabore com a Xapuri, comprando um produto em nossa loja solidária:lojaxapuri.info ou fazendo doação de qualquer valor via pix: contato@xapuri.info. Até o próximo epsisódio do “Seguir Esperneando”!


Salve! Pra você que chegou até aqui, nossa gratidão! Agradecemos especialmente porque sua parceria fortalece  este nosso veículo de comunicação independente, dedicado a garantir um espaço de Resistência pra quem não tem  vez nem voz neste nosso injusto mundo de diferenças e desigualdades. Você pode apoiar nosso trabalho comprando um produto na nossa Loja Xapuri  ou fazendo uma doação de qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Contamos com você! P.S. Segue nosso WhatsApp61 9 99611193, caso você queira falar conosco a qualquer hora, a qualquer dia.GRATIDÃO!

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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