A Carta-Testamento de Vargas
“Não querem que o trabalhador seja livre, não querem que o povo seja independente“
A Carta Testamento de Getúlio Vargas é um documento endereçado ao povo brasileiro, escrito por Getúlio Vargas horas antes de seu suicídio, em 24 de Agosto de 1954.
Existe uma nota manuscrita do suicídio, e um documento datilografado “Carta Testamento”, da qual se conhecem três cópias, que foi lido em seu enterro por João Goulart.
Porém, existe uma grande polêmica quanto à autenticidade do texto datilografado.
A frase “Não querem que o trabalhador seja livre, não querem que o povo seja independente seja independente”, encontra-se no texto lido por João Goulart.
TEXTO DO DOCUMENTO MANUSCRITO
“Deixo à sanha dos meus inimigos o legado da minha morte. Levo o pesar de não haver podido fazer, por este bom e generoso povo brasileiro e principalmente pelos mais necessitados, todo o bem que pretendia.
A mentira, a calúnia, as mais torpes invencionices foram geradas pela malignidade de rancorosos e gratuitos inimigos numa publicidade dirigida, sistemática e escandalosa.
Acrescente-se a fraqueza de amigos que não me defenderam nas posições que ocupavam, a felonia de hipócritas e traidores a quem beneficiei com honras e mercês e a insensibilidade moral de sicários que entreguei à justiça, contribuindo todos para criar um falso ambiente na opinião pública do país, contra a minha pessoa.
Se a simples renúncia ao posto a que fui elevado pelo sufrágio do povo me permitisse viver esquecido e tranquilo no chão da pátria, de bom grado renunciaria.
Mas tal renúncia daria ensejo para com fúria, perseguirem-me e humilharem.
Querem destruir-me a qualquer preço.
Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas.
Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao senhor, não de crimes que contrariei ora porque se opunham aos próprios interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente, aos pobres e aos humildes.
Só Deus sabe das minhas amarguras e sofrimentos.
Que o sangue de um inocente sirva para aplacar a ira dos fariseus.
Agradeço aos que de perto ou de longe trouxeram-me o conforto de sua amizade.
A resposta do povo virá mais tarde…
TEXTO DA CARTA-TESTAMENTO
Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim.
Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de defesa.
Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto.
Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci.
Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social.
Tive de renunciar.
Voltei ao governo nos braços do povo.
A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho.
A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso.
Contra a Justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios.
Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma.
A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre, não querem que o povo seja independente.
Assumi o governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho.
Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano.
Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano.
Veio a crise do café, valorizou-se nosso principal produto.
Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo e renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado.
Nada mais vos posso dar a não ser o meu sangue.
Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco.
Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado.
Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos.
Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação.
Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta.
Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência.
Ao ódio respondo com perdão.
E aos que pensam que me derrotam respondo com a minha vitória.
Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna.
Mas esse povo, de quem fui escravo, não mais será escravo de ninguém.
Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate.
Lutei contra a espoliação do Brasil.
Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo.
Tenho lutado de peito aberto.
O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo.
Eu vos dei a minha vida.
Agora ofereço a minha morte.
Nada receio.
Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.
Fontes: Wikipedia Só História