A Mãe e a Enxada

A Mãe e a Enxada

A Mãe e a Enxada

Entre tantas cenas angustiantes e assombrosas da tragédia que assola o município de Petrópolis, destaco a imagem da mãe que com uma enxada escava corajosa e desesperadamente os escombros a procura da filha soterrada…

Por Padre Gegê Natalino

Creio que essa terrível e inesquecível cena traduz, no poder arquivelho da imagem, o terror de uma população inteira, o terror humano em grau extremo.
Entre a mãe e a filha soterrada, uma enxada desesperada se faz confissão de uma terrível busca, símbolo do vínculo ancestral mãe-filha, sacramento do desesperado amor que desce a mansão dos mortos… É reedição da cena arquetípica de Maria aos pés da cruz, de Deméter a procura de Perséfone, de Iemanjá ante as chagas abertas de Omolu/Obaluaê.
É cena em face da qual as humanas palavras emudecem; é desespero e horror a produzir, a céu aberto, terror e tremor.
A enxada tocou no coração do mundo. É ferida aberta, cratera no corpo-mulher-continente; é buraco do tamanho de Deus no ventre.
E, “de repente não mais que de repente”, a desesperada enxada fez-se confissão materna de aflição e dor
Choram as Yabás…
Salve Regina, Mater misericordiae
Saluba Nanã!
Silêncio, silêncio… Atotô!”

“Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu”

(Chico Buarque de Holanda)

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