A “perigosa poesia” de Pablo Neruda
“o poeta que sabe chamar o pão de pão e o vinho de vinho é perigoso para o agonizante capitalismo”
(Confesso que Vivi).
Eu não me calo.
Eu preconizo um amor inexorável.
E não me importa pessoa nem cão:
Só o povo me é considerável,
Só a pátria é minha condição.
Povo e pátria manejam meu cuidado,
Pátria e povo destinam meus deveres
E se logram matar o revoltado
Pelo povo, é minha Pátria quem morre.
É esse meu temor e minha agonia.
Por isso no combate ninguém espere
Que se quede sem voz minha poesia.
A meu Partido
Me deste a fraternidade para o que não conheço.
Me acrescentaste a força de todos os que vivem.
Me tornaste a dar a pátria como em um nascimento.
Me deste a liberdade que não tem o solitário.
Me ensinaste a acender a bondade, como o fogo.
Me deste a retidão que necessita a árvore.
Me ensinaste a ver a unidade e a diferença dos homens.
Me mostraste como a dor de um ser morreu na vitória de todos.
Me ensinaste a dormir nas camas duras de meus irmãos.
Me fizeste construir sobre a realidade como sobre uma rocha.
Me fizeste adversário do malvado e muro do frenético.
Me fizeste ver a claridade do mundo e a possibilidade da alegria.
Me fizeste indestrutível porque contigo não termino em mim mesmo.
Fonte: A Verdade
PABLO NERUDA
Sua primeira publicação foi o artigo “Entusiasmo e perseverança”, assinado como Neftalí Reyes, em 1917, no jornal La Mañana. A partir de então, passou a publicar poesias em periódicos como Corre-Vuela e Selva Austral. Em 1919, ficou em terceiro lugar nos jogos florais de Maule, com o poema “Noturno ideal”.
Passou a assinar as suas poesias com o pseudônimo de Pablo Neruda a partir de 1920. Já em 1921, mudou-se para Santiago, onde ingressou no Instituto Pedagógico da Universidade do Chile, para estudar francês. Nesse mesmo ano, ficou em primeiro lugar no concurso da Federação de Estudantes do Chile, com seu poema “A canção da festa”.
Enquanto estudava, continuou a publicar em periódicos como Claridad, Los Tiempos e Dionysios. Em 1923, publicou seu primeiro livro de poesias: Crepusculário. Dois anos depois, tornou-se diretor da revista Caballo de Bastos, além de escrever para outros periódicos.
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No ano de 1927, Pablo Neruda viajou para a Europa e conheceu Portugal, Espanha e França. Em Rangum, na Birmânia, onde atuou como cônsul, teve um relacionamento amoroso com uma mulher chamada Josie Bliss, o qual durou até o ano seguinte. Em 1930, quando era cônsul na Batávia, casou-se com María Antonieta Hagenaar Vogelzang.
Voltou ao Chile em 1932. No ano seguinte, foi para Buenos Aires, na Argentina, e continuou a realizar seu trabalho de cônsul. Já em 1934, foi nomeado cônsul na Espanha, onde conheceu Delia del Carril (1884-1989). Com o início da Guerra Civil Espanhola, em 1936, Neruda foi para a França, e regressou ao Chile no ano seguinte.
Em 1939, o poeta retomou seu trabalho como diplomata e voltou a viver em Paris, onde atuou a favor dos refugiados espanhóis. Em 1940, partiu para a Cidade do México, como cônsul geral. Cinco anos depois, em 1945, Neruda foi eleito senador no Chile, ganhou o Prêmio Nacional de Literatura e se filiou ao Partido Comunista.
Foi condecorado pelo governo mexicano, em 1946, com a Ordem da Águia Asteca. Dois anos depois, devido à perseguição política exercida pelo presidente chileno Gabriel González Videla (1898-1980), foi decretada a sua prisão. Apesar disso, o poeta permaneceu no Chile, mas escondido. Até que, em 1949, ele conseguiu fugir do país.
A partir de então, viajou para diversos países, onde participou de eventos políticos, artísticos e literários. Em 1950, recebeu o Prêmio Internacional da Paz. Quando estava morando na Itália, em 1952, sua ordem de prisão no Chile foi revogada, e, assim, o poeta voltou à sua pátria.
No ano seguinte, recebeu o Prêmio Stalin da Paz. Em 1955, separou-se de Delia de Carril e foi morar com sua nova companheira, Matilde Urrutia (1912-1985). Nesse mesmo ano, fundou a revista Gaceta de Chile. Dois anos depois, tornou-se presidente da Sociedade de Escritores do Chile.
A essa altura, era um dos poetas de língua espanhola mais lidos, traduzidos e celebrados no mundo inteiro. Assim, em 1961, recebeu o título honorífico de membro correspondente do Instituto de Línguas Românicas da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Em 1962, foi nomeado membro acadêmico honorário da Faculdade de Filosofia e Educação da Universidade do Chile.
Suas viagens a outros países eram constantes, mas o poeta sempre retornava ao seu país natal. Em 1965, recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade de Oxford. No ano seguinte, recebeu a condecoração peruana Sol do Peru, além do Prêmio Atenea, da Universidade de Concepción, e, em 1967, o prêmio literário internacional de Viareggio, na Itália.
Já no ano de 1968, recebeu a medalha Joliot Curie e se tornou membro honorário da Academia Norte-Americana de Artes e Letras. No ano seguinte, foi nomeado membro honorário da Academia Chilena da Língua e recebeu o título de doutor honoris causa pela Pontifícia Universidade Católica do Chile, além da Medalha de Prata do Senado chileno.
No ano de 1971, Neruda se tornou embaixador do Chile na França e ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Já em 1972, foi nomeado membro do Conselho Consultivo da Unesco. No ano seguinte, renunciou ao cargo na embaixada. Morreu em 23 de setembro de 1973, em Santiago, no Chile, dias após o golpe militar que implantou a ditadura no país.”
Fonte: Brasil Escola