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A revolta do feijão: A nova conjuração soteropolitana

A revolta do feijão: A nova conjuração soteropolitana
Contrapondo o “senso comum” de que o é dividido, surge um espectro de ampla unidade. A campanha denomina-se: Eu quero Ela. Campanha que se remete à busca de um nome negro/a para disputar o governo da cidade de Salvador.
Por Herlon Miguel
 
No final do século XVIII (1798-1799), na então Capitania da Bahia, houve um movimento de emancipação chamado: Conjuração Baiana, Revolta dos Alfaiates ou Revolta dos Búzios. Defendiam a independência e o fim da escravidão. Lutavam por um governo republicano e democrático. A revolta teve a participação de pessoas, como sapateiros, ex-escravos, escravos e, obviamente, alfaiates.
A Conjuração Baiana teve grande influência da Revolução Francesa, além de alguns exemplos de independência, como e Haiti, junto com a Inconfidência em Minas Gerais. O movimento foi esmagado pela sanha e força das elites, que prendeu, torturou e matou alguns líderes revoltosos. Alguns dos heróis foram Manoel Faustino, João de Deus, Lucas Dantas e Luís Gonzaga, todos foram enforcados na Praça da Piedade, em Salvador.
Como essa história se relaciona com o momento atual? Perceba. Em 12 de agosto de 1798, o movimento (revoltosos de búzios) distribuiu panfletos na porta das igrejas e colou nas esquinas da cidade. Esse foi o primeiro ato público da revolta. Para alguns, nada na vida é coincidência. Trazendo para os nossos dias, haverá, no dia 09 de Agosto de 2019, o seminário: Porque Queremos Ela – Salvador Cidade Negra.
O seminário gera um “frisson” na cidade. A mídia tradicional e alternativa tem evidenciado a força do movimento. A campanha tem unidade do movimento negro, lideranças políticas, movimentos de e blocos afros. Todos unificados sob a pauta de eleger um prefeita/o negra/o para Salvador. Nos dias de hoje, os panfletos revolucionários mudaram, mas a motivação é a mesma: a liberdade, a participação e o poder para o povo negro.
Ouvi do Presidente do Olodum, João Jorge, que disse “É a nova conjuração soteropolitana”. Ele afirma ser um, de vários, do movimento – Eu quero Ela. Além disso, ele alcunhou a expressão: “esse é um momento plebiscitário, onde teremos que dizer, de verdade, que tipo de prefeito queremos para Salvador”.
Existem novos heróis e heroínas no momento atual. Mesmo percebendo que os “novos revoltosos” não querem que a disputa pela hegemonia da campanha enfraqueça-a. Mesmo assim, percebe-se que o ápice desse processo organizativo partiu de reuniões que acontecem na autointitulada “bancada do feijão” em reuniões feitas às terças, no restaurante Alaíde do Feijão. Os nomes colocados são vários, tais como, Vilma Reis, Vovô do ilê, Silvio Humberto, Valmir Assunção, Olívia Santana, dentre outros.
A atual coordenadora nacional do MNU (principal organização negra do ), Iêda leal, defendeu: “É fundamental a participação de e homens negros nas tarefas políticas. A presença negra nos espaços de poder real – tendo como meta a luta para transformar as desigualdades estruturais que moldaram nossa sociedade – é inadiável, especiamente nessa dura realidade.
 
Mas para isso é preciso que os partidos revistam-se, de verdade, da luta antirracista e garantam as condições políticas para que lideranças negras possam disputar as eleições.”
O paralelo da conjuração soteropolitana com a conjuração baiana é enorme. Na Revolta de Búzios, a população se encontrava em um nível muito grande de insatisfação. Salvador deixava de ser capital, sendo substituída pela cidade do Rio de Janeiro.
 
Os impostos aumentaram, os investimentos diminuíram e, como de praxe, a população foi penalizada. No momento atual, há uma diminuição de direitos, ocasionada pelo governo federal, aumento do desemprego nas capitais. Além do motivo óbvio, Salvador é a capital mais negra do Brasil e os novos insurgentes acham que esse fenômeno (os problemas sociais e raciais) será atenuada com um gestor que sinta, perceba e conheça as dificuldades da realidade negra soteropolitana.
Essa quadra é histórica. Tal quanto na Revolta dos Búzios? Não sabemos. Mas o desenrolar depende da conjuntura, da tática e da unidade política. De certo, colheremos bons frutos e, no limite, exporemos o na política, amplificaremos a potência de lideranças negras e debateremos com a população de Salvador.
**Texto extraído de uma entrevista feita com João Jorge (presidente do Olodum)
***Agradecemos a coordenação nacional do MNU
Herlon Miguel é administrador, especialista em Comunicação estrategica e mestrando em Gestão de Tecnologia aplicada à . Foi Coordenador Nacional de Organização do MNU da Gestão 2015-2017.
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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