A Vida foi Dez! Seguir Esperneando – Episódio 11

A foi Dez! Seguir Esperneando – Episódio 11

❤️ LIVE SOLIDÁRIA A VIDA FOI DEZ (Em memória de Jaime Sautchuk) SEGUIR ESPERNEANDO – LANÇAMENTO DO EPISÓDIO 11 ⏰ Dia: 14/09, às 21h 📍 Mediadora: Lucélia Santos 🗣️ Participação: 📌 Carlos Sautchuk – Filho de Jaime 📌 Maria Rosa Sautchuk – Filha de Jaime 📌 Zezé Weiss – Revista Xapuri


SEGUIR ESPERNEANDO – O PODCAST DA LUCÉLIA SANTOS

 EPISÓDIO 11

A VIDA FOI DEZ

Eu sou Lucélia Santos e você está no “Seguir Esperneando”, o meu podcast em parceria com a Revista Xapuri.

Neste décimo primeiro episódio, “A Vida foi Dez!” prestamos homenagem ao nosso companheiro Jaime Sautchuk, encantado em 14 de julho de 2021, vítima de uma parada cardíaca.

Jaime foi, no dizer dele mesmo, feliz com as coisas que fazia, com o amor que tinha e com a militância em defesa das causas que defendia.

Jaime nos deixa o legado de uma vida dedicada à escrita e à luta por um mundo mais verde, mais justo e menos desigual.  

Gratidão, Jaime!

A VIDA FOI DEZ

 Duda Meirelles:

 Eu sou Duda Meirelles e com muito orgulho me somo à Lucélia Santos e a toda a equipe da Xapuri nesta homenagem ao Jaime.

Começamos por ler a biografia que Maria Rosa, Carlos Emanuel e João Miguel, filha e fihos de Jaime leram para o pai na cerimônia de despedida:

A palavra ágil e leve, mas precisa e aguda, foi sua marca. Assim foi também sua vida, um percurso irrequieto, intenso e de pleno sentido.

Jaime nasceu em Joaçaba, Santa Catarina, em 1953, filho de descendentes de imigrantes italianos, poloneses e ucranianos. Catarinense de nascimento, se tornou goiano de coração, acolhido com títulos e homenagens em três de Goiás.

Coroinha quando criança, na adolescência escreveu para um jornal da escola religiosa, tomando gosto pela palavra, que se tornaria sua ferramenta de trabalho e sua arma de luta.

Após rápida passagem como bancário em Curitiba, mudou-se para Brasília, sonhando formar-se jornalista. Logo nos primeiros períodos de faculdade, conseguiu emprego no Diário de Brasília…

Lucélia Santos:

Aos 20 anos, casou-se e emigrou para Londres, num dos períodos mais duros da repressão, onde trabalhou na BBC.

De retorno ao país no final da década de 1970, passou por muitos veículos da imprensa escrita, como Movimento, Opinião, Folha de São Paulo, Veja, O Globo, Jornal de Brasília. Afinal, e mais tarde, O Pasquim.

Realizou reportagens investigativas memoráveis, do universo político aos mais diversos rincões.

Dirigiu duas emissoras de rádio da RBS em Brasília, a Alvorada-AM e Atlântida-FM, onde tiveram espaço da música caipira ao nascente rock de Brasília, além de programas como Os Cobras da Notícia.

Aprendeu a dedilhar a viola e a entoar canções, principalmente de Goiá, seu compositor preferido e autor de Saudade de Minha Terra, uma espécie de hino pessoal seu.

Integrou-se a diversos movimentos coletivos. Militou no PCdoB, participando do processo de redemocratização. Atuou no Sindicato dos Jornalistas. Foi um fiel corintiano e compôs o grupo que criou o grupo carnavalesco Pacotão…

Duda Mendonça:

No final da década de 1980, criou uma produtora de vídeo para apoiar a execução dos documentários que dirigiu, dentre eles: “Planaltina, a Via Sacra Nacional”, “A Marcha dos Sem Terra”, “Balbina, Destruição e Morte”, pelos quais recebeu diversos prêmios.

No final do século passado, idealizou e participou da implantação do FICA – Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, que até hoje faz parte do calendário cultural da Cidade de Goiás (Goiás Velho).

Atuou por vários anos em organismos internacionais, como o Unicef, num programa de capacitação de radialistas sobre crianças e adolescentes, e no Conselho Mundial da Paz.

Teve contribuição também como assessor no Governo do Distrito Federal, na Câmara dos Deputados (durante a Constituinte e a CPI CBF-Nike). E trabalhou no Ministério do Esporte, durante a gestão do ministro Agnelo Queiroz, no governo Lula.

Lucélia Santos:

Sua obra literária é extensa, comportando obras de ficção, como “Mitaí”, e obras documentais, como “A Guerrilha do Araguaia”, “Albânia”, “A Luta Armada no Brasil”, “Os Descaminhos do Futebol” e, mais recentemente, biografias como a de “Cruls: Histórias e Andanças do Cientista Que Inspirou JK a Fazer Brasília”, e “O Causo eu Conto”, sobre o escritor goiano Bernardo Élis. Dedicou-se também à poesia, inclusive no formato de cartazes.

No início dos anos 1990, foi um dos pioneiros a investir seu patrimônio para criar no Cerrado de Cristalina, em Goiás, a Reserva Particular do Patrimônio Natural – sua morada até o fim.

Com vocação científica e acadêmica, ali foram desenvolvidos desde cursos de educação ambiental até eventos de astronomia, passando pela pesquisa da biodiversidade do Cerrado, que originou o livro “Flores e Frutos do Cerrado”, guia de campo editado por ele, envolvendo , artistas e mestres locais. Tudo em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) e outras instituições.

Nos últimos sete anos, foi responsável editorial e redator da revista e portal Xapuri, veículo independente dedicado à defesa do meio ambiente, dos direitos humanos e da . Foi, também, articulista do Portal Vermelho e, mais recentemente, lançou seu próprio blog, SerTão Cerratense.

Duda Meirelles:

Forte em seus princípios e amplo em seus diálogos, transitou entre regueiros e comandantes do Exército, entre ruralistas e trabalhadores sem-terra.

Hábil comunicador, foi incansável na busca da verdade, na defesa do meio ambiente, dos trabalhadores, da soberania nacional, dos direitos dos povos , e das crianças e dos adolescentes.

Sua vida fluiu até o último minuto como corria sua pena – clara e precisa, qual uma flecha apontando para o valor atemporal do seu legado.

Filhos, foram três. Livros, escreveu dezesseis. Árvores, não só plantou como protegeu toda uma reserva.

Valeu demais da conta, Jaiminho. Pra você, a vida foi dez!

 UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Lucélia Santos:

O último projeto editorial de Jaime foi a Revista Xapuri. Em sua depedida final, Zezé Weiss, parceira de Jaime nessa empreitada, leu a seguinte mensagem:

 Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo de informação independente e democrático. Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de . Mais um trabalho de militância, tipo voluntário.

Jaime propôs um jornal, eu uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga , ele escolheu (eu queria verde-floresta). Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, praticamente em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, de grátis. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial. Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro e conselheira pessoalmente (até a doença agravar, nos últimos meses, ele nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro.

O resto é . Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensamente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrenta. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

O JAIMÊS QUE FICA EM NÓS

Duda Meirelles:

Durante quase oito anos, Lúcia Resende revisou os textos do Jaime. Agora, à de homenagem, Lúcia juntou as principais expressões dele que acabamos por adotar como fala própria nossa aqui na Xapuri: 

Bão demais da conta, bão tamém, bem na foto, bora lá, boto a mó fé, boto fé, carca porva, c´ocê, de modo que, foi pras cucuia, iguar que nem, inté, ixe…

 Jazim, lindura, maismemin, meno male, mió de bão, mó barato, nos conforme, nos finarmente, no grau, nóis teima, nos trinque…

 O mais das veiz, ops, proceis, pros, pruns, salve, supimpa, tá que tá, tão bão, tracoisa, té parece, tocaí (a matéria, a revisão), trodia, tudireitim, um cadim, vô garrá, xá comigo; e, a mió das mió: pois, pois…

Fica em nós esse jaimês lindo e sem fim…

Lucélia Santos:

 Este podcast é dedicado à memória de Jaime Sautchuk. É mais um jeito nosso de registrar o muito que fica de Jaime em nós e em todo mundo que teve o privilégio de conviver com ele.

Duda Meirelles:

“Seguir Esperneando” é mais um espaço de resistência da Revista Xapuri, construído em parceria com a atriz e militante Lucélia Santos.

Este episódio, “A VIDA FOI DEZ!”, resulta do esforço coletivo de Agamenon Torres; Ana Paula Sabino; Janaina Faustino; Lucélia Santos;  Zezé Weiss; e eu, Duda Meirelles.

O roteiro incorpora três textos, publicados na edição 82 da Revisra Xapuri, publicada em homenagem ao Jaime, em agosto de 2021:  “A Vida foi Dez”, assinado por Maria Rosa, Carlos Emanuel e João Miguel, filha e fihos de Jaime; ‘Uma Revista pra chamar de nossa” e “O Jaimês que fica em nós”, escritos por Zezé Weiss.

“Seguir Esperneando é patrocinado por: Bancários-DF – Sindicato dosBancários de Brasília; Fenae – Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômmica Federal; Fetec-CUT Centro Norte – Federação dosTrabalhadores em Empresas de Crédito do Cento Norte; e Sinpro/DF –Sindicato dos Professores no Distrito Federal.

Colabore com a Xapuri. Visite nossa loja: www.lojaxapuri.info  pu faça uma doação via pix: contato@xapuri.info.

Até o próximo epsisódio do “Seguir Esperneando”!


Salve! Pra você que chegou até aqui, nossa gratidão! Agradecemos especialmente porque sua parceria fortalece  este nosso veículo de comunicação independente, dedicado a garantir um espaço de Resistência pra quem não tem  vez nem voz neste nosso injusto mundo de diferenças e desigualdades. Você pode apoiar nosso trabalho comprando um produto na nossa Loja Xapuri  ou fazendo uma doação de qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Contamos com você! P.S. Segue nosso WhatsApp61 9 99611193, caso você queira falar conosco a qualquer hora, a qualquer dia.GRATIDÃO!

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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