Ações de conservação reduziriam impactos da reconstrução da BR-319

Ações de reduziriam impactos da reconstrução da BR-319

Obra pode levar ao desmate de até 170 mil km² até 2050, numa taxa quatro vezes maior do que as perdas históricas da região.

Por Aldem Bourcheit/O Eco

A obra promete benefícios como reduzir custos de transporte, gerar empregos e conectar áreas remotas a mercados. Ao mesmo , por volta de 90% da zona de influência direta da rodovia tem paisagens florestais íntegras, diz o Observatório da BR319.

Como mostramos no início de agosto, já somam mais de 5 mil km os ramais derivados da estrada apenas desde os municípios amazonenses de Canutama, Humaitá, Manicoré e Tapauá, ou quase 6 vezes mais do que os cerca de 900 km da rodovia, entre (AM) e Porto Velho (RO).

Uma simulação feita em 2020 mostrou que a reconstrução da BR-319 pode provocar o de 170 mil km², até 2050. O valor é quatro vezes maior do que o montante estimado pesando a taxa média histórica de desmatamento daquela região.

Diante desse cenário, entidades ligadas ao Observatório elencaram 18 áreas no entorno do trecho central da rodovia que precisam de medidas urgentes de conservação para evitar sua acelerada degradação social, cultural e ambiental.

“São áreas que possuem alta biológica e são base de de e comunidades locais não-, localizadas em e , por exemplo”, destaca uma publicação do Observatório da BR-319.

O documento recomenda ainda, diante daquelas obras rodoviárias, ações como fortalecer a fiscalização ambiental, sobretudo em áreas protegidas, fomentar o manejo sustentável de recursos naturais e capacitar atores locais para atividades produtivas, agrícolas e extrativistas de baixo impacto ambiental.

Aldem Bourcheit– Jornalista. Fonte: O Eco. Foto:  

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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