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Adélia Prado: Anímico 

ADÉLIA PRADO: ANÍMICO

Anímico 

 
Nasceu no meu jardim um pé de mato
que dá flor amarela.
Toda manhã vou lá pra escutar a zoeira
da insetaria na festa.
Tem zoada de todo jeito:
tem do grosso, do fino, de aprendiz e de mestre.
É pata, é asas, é boca, é bico, é grão de
poeira e pólen na fogueira do sol.
Parece que a arvorinha conversa.
 
Adélia Prado – In: Bagagem (1975). Capa: Blog Max Educa. Foto interna: Soluções para Cidades. 
 

ADÉLIA PRADO

Adélia Luzia Prado de Freitas nasceu em Divinópolis, de Minas Gerais, no dia 13 de dezembro de 1935. Realizou o Magistério em 1953 e tornou-se professora. Em 1966, já casada e mãe de cinco filhos, iniciou a graduação em Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis, que atualmente integra a Estadual de Minas Gerais (UEMG).

Adélia Prado: Anímico 
Foto: TV Cultura/Reprodução

Antes de seu primeiro , atuou por 24 anos como professora e publicou alguns poemas em jornais locais. A estreia oficial na se daria em 1976 com o livro Bagagem. A publicação da obra teve influência de Carlos Drummond de Andrade, que recebera dois anos antes alguns poemas enviados pela própria Adélia. Impressionado, Drummond sugeriu o material para os editores.

Em 1978, Adélia publicaria seu segundo livro, O Coração Disparado, com o qual recebeu o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (CBL). No ano seguinte, deixou a sala de aula para se dedicar exclusivamente à carreira artística e estreou na com Solte os Cachorros. Em 1980, dirigiu em sua cidade a montagem teatral de O Auto da Compadecida, de , realizada pelo grupo amador Cara e Coragem.

O romance Cacos Para Um Vitral seria publicado também em 1980 e em 1981 sairia a coleção de poemas Terra de Santa Cruz. De 1983 a 1988, Adélia atuou como chefe da Divisão Cultural da Secretaria Municipal de e Cultura de Divinópolis, período em que publica o romance Os Componentes da Banda (1984) e o livro de poemas A Faca no Peito (1988). Foi nessa época também, em 1987, que Fernanda Montenegro levou aos palcos o espetáculo Dona Doida, baseado em poemas da autora.

O início da década de 1990 se abre para Adélia com a publicação de  Reunida (1991) e segue com o romance O Homem da Mão Seca (1994). Em 1996, acontece a estreia do espetáculo Duas Horas da Tarde no , adaptação da obra da autora realizada por sua filha Ana Beatriz Prado e Kalluh Araújo. O conjunto de poemas Óraculos de Maio e o romance Manuscritos de Felipa vieram em 1999, este último adaptado como o monólogo Dona de Casa, por José Rubens Siqueira, em 2000.

No século 21, Adélia publicou os contos de Filandras (2001), a novela Quero Minha Mãe (2005), o livro infantil Quando Eu Era Pequena (2006), a coleção de poemas A Duração do Dia (2010) e mais um infantil, Carmela Vai À Escola (2011). Seu livro inédito mais recente é Miserere, de 2013. Em 2014, foi condecorada com a Ordem do Mérito Cultural pelo governo brasileiro e em 2015 chegou às livrarias uma nova edição de Poesia Reunida.

Em dezembro de 2023, a autora anunciou o trabalho em um novo livro, provisoriamente chamado O Jardim das Oliveiras, após dez anos do que descreve como “deserto criativo”. Além disso, Adélia se mantém ativa nas redes sociais, onde faz leituras de seus poemas e se comunica com o público através de seu perfil no Instagram.

Fonte: Jornal USP

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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