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Amazônia livre da exploração do petróleo: agora ou nunca

Amazônia livre da exploração do petróleo: agora ou nunca

A Amazônia, vasto ecossistema que abriga uma rica biodiversidade e desempenha um papel crucial no equilíbrio climático global, local de morada de milhares de pessoas indígenas e de comunidades tradicionais, enfrenta uma encruzilhada crítica. Nessa encruzilhada estamos nós e um debate sobre a exploração de petróleo na região. 

Por Adilson Vieira

Esse debate decisivo não deve ser adiado, pois a seca extrema na Amazônia, as ondas de calor no mundo inteiro e as enchentes e tempestades apontam que atingimos um ponto crucial. Portanto, torna-se urgente preservar a Amazônia, abolindo a exploração de petróleo e declarando que o momento de agir é agora ou nunca!

A Amazônia, com sua biodiversidade exuberante e papel vital no equilíbrio climático global, é uma alegria da natureza. No entanto, esta região é a única no planeta que enfrenta ameaças crescentes, especialmente a exploração do petróleo. Os riscos ambientais associados à remoção de petróleo na Amazônia são enormes, incluindo derramamentos, desmatamento e impactos irreversíveis na fauna e na flora. 

Se falarmos então dos impactos nas sociedades tradicionais, esses impactos vão muito além do que somente a perda de recursos naturais, que estão ligados na perda de terras ancestrais, o que afeta também a identidade cultural e os meios de subsistência dessas comunidades. Tudo junto, muitas vezes, resulta em desintegração social e na perda de práticas tradicionais ligadas ao território. 

Essas práticas, que podemos chamar de práticas culturais, são intrinsecamente ligadas à natureza; daí, a transmissão de conhecimentos tradicionais entre gerações pode ser interrompida, levando à perda de parte valiosa da herança cultural. 

Portanto, falar da indústria do petróleo na Amazônia é falar sempre de um desastre de grandes proporções, feito pela imposição de um ambiente transformado pela exploração petrolífera. Podemos com isso afirmar que a exploração do petróleo na Amazônia não destrói somente o meio ambiente, destrói também as conexões entre as comunidades e o meio ambiente.

Essa conexão entre o ser humano e a natureza é lembrada pelo Papa Francisco em sua encíclica “Laudato Si”, na qual alerta para a responsabilidade moral de proteger a criação Divina, destacando a Amazônia como um lugar crucial para a saúde do planeta. Um lugar sagrado que requer cuidado e respeito. 

As citações do Papa, como “cuidar da casa comum”, ecoam como um chamado à ação para preservar a Amazônia como um ato de responsabilidade para com Deus e o próximo. Um chamado que adentra a esfera da espiritualidade e da ética e que deve ressoar em cada um de nós como um eco da consciência global. A mensagem do Papa é clara: esta exploração desenfreada não apenas destrói o meio ambiente, mas também compromete a ética fundamental de nossa relação com a natureza.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, SÓ SEM EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO 

A Amazônia tornou-se um campo de batalha onde a lógica do lucro colide com a necessidade de preservação. Se olharmos para os municípios de Coari e Silves, ambos no Amazonas, vemos que a exploração de gás e petróleo não traz benefícios para as comunidades tradicionais que vivem nestes territórios, pelo contrário, trouxe impactos diretos para comunidades tradicionais, tais como doenças e fome. 

A redução do pescado e da caça são impactos significativos para comunidades tradicionais dependentes diretamente dos recursos naturais para sua subsistência. A contaminação de rios e solos compromete fontes de água potável e áreas de pesca, prejudicando a segurança alimentar dessas comunidades. 

Em suma, o que gera lucro para as grandes corporações petrolíferas na Amazônia destrói a socioeconomia das comunidades tradicionais e dos povos indígenas. Nessa lógica, o desenvolvimento sustentável só dará certo na Amazônia sem a dependência dos combustíveis fósseis, ou seja, buscando alternativas energéticas sustentáveis que não dependam da exploração de recursos naturais em detrimento do meio ambiente e das comunidades locais.

Essa lógica de explorar petróleo e com os recursos financiar o desenvolvimento sustentável não se sustenta. essa ideia pode ser chamada de desenvolvimento, mas não de sustentável! Isso é mais uma vez tentar dar uma cor verde a este modelo econômico que destrói e mata nossas florestas e seus povos.

Jeffrey Sachs, economista renomado, oferece contribuições valiosas para essa discussão sobre conceito de desenvolvimento sustentável na Amazônia. Sachs propõe políticas que considerem os limites do ecossistema, promovendo uma abordagem que equilibra as necessidades humanas com a proteção ambiental. 

Sua perspectiva destaca a importância de estratégias de desenvolvimento que buscam a prosperidade sem comprometer o futuro. Portanto, o desenvolvimento sustentável na Amazônia só existirá sem a exploração do petróleo. Esse é o verdadeiro caminho para preservar sua rica biodiversidade e proteger as comunidades locais.

Seguindo a lógica de Jeffrey Sachs, os recursos que se investem em pesquisa e exploração de petróleo deveriam ser redirecionados para o investimento em energias renováveis, preservação ambiental e economia verde na região. Promover práticas agrícolas sustentáveis, fortalecer a conservação das florestas e cultivar o ecoturismo.  Aí sim, estaríamos a caminhar para um desenvolvimento econômico equitativo e sustentável para toda a Amazônia e, por consequência, ajudando no reequilíbrio climático do planeta.

OS ESTRAGOS DE AGORA

Outro ponto importante que temos que pensar é sobre o equilíbrio climático do planeta. Nunca a indústria do petróleo causou tanto estrago quanto o que está causando no clima de nosso planeta como agora. O uso de combustíveis fósseis tem criado um impacto devastador sobre as florestas e o clima global. Sua queima libera grandes quantidades de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa, intensificando o aquecimento global. 

Isso desencadeia eventos climáticos extremos, como secas e incêndios florestais mais frequentes e intensos, como estamos vendo na Amazônia e no Pantanal, resultando na destruição massiva de ecossistemas florestais preciosos. A poluição do ar proveniente das atividades petrolíferas também prejudica a saúde das árvores, comprometendo sua capacidade de absorver carbono.

As florestas, essenciais na regulação do clima, estão enfrentando um declínio alarmante devido aos efeitos nefastos da indústria de petróleo e acelerando uma crise climática global. A Hora de Agir é Agora. A Amazônia Não Pode Esperar. O relógio está avançando, e a decisão de destruir ou preservar a Amazônia está sobre nós. 

O desafio é monumental, mas a necessidade é urgente. A exploração do petróleo na Amazônia não é apenas uma questão ambiental, mas uma decisão que define o tipo de legado que deixaremos para as gerações futuras. O momento de agir é agora ou nunca. 

Cabe a todas e a todos nós, cidadãos, governos, movimentos sociais e organizações, tomar medidas concretas para proteger esse tesouro da humanidade. Isso envolve a implementação de políticas ambientais robustas, investimentos em energias renováveis e um compromisso inabalável com a preservação da Amazônia para as gerações vindouras. 

Ou continuar a exploração do petróleo na região, o que é um atentado não apenas contra a natureza, mas contra o futuro do nosso planeta e da humanidade.

Adilson Vieira Sociólogo, Mestre em Educação e Doutorando em Sociologia pelo ISCTE. Instituto Universitário de Lisboa. Foi Secretário Geral da Rede GTA, membro da Coordenação Colegiada do FBOMS e membro do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial e Fórum Social Pan Amazônico. Voluntário da Associação Alternativa Terrazul.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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