Amazônia: Mais de 2,5 mil garimpos ilegais

Amazônia tem mais de 2,5 mil garimpos ilegais e contaminação por mercúrio vira regra

Por Vitor Paiva/Hypeness  

A pratica de extrair minerais valiosos do solo brasileiro, também conhecida como garimpo, não é ilegal. É completamente possível encontrar ouro, diamante ou cassiterita, entre tantos outros, e ganhar dinheiro com isso, trabalhando sozinho ou em cooperativa, sem estar cometendo crime algum.

Para isso, no entanto, é preciso seguir leis de registro, e que o aconteça dentro de áreas aprovadas para tal prática. Como é costume no , no entanto, em nome do lucro muitos garimpos acontecem de maneira ilegal. E não se trata de algo discreto ou pequeno – tanto em números gerais, quanto nos efeitos nocivos que o traz para o .

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Ouro extraído da

A Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada, ou Raisg, lançou recentemente um relatório intitulado Amazônia Saqueada, no qual as rotas gerais, de entrada e saída, da mineração na região foram traçadas – assim como os rios que acabam prejudicados pelas praticas ilegais. Na região Amazônica, envolvendo não só o Brasil mas também Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, são 2.557 garimpos ilegais demarcados pelo relatório.

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Exemplo de garimpo ilegal na região

A vasta maioria encontra-se na Venezuela: 1899, com 453 no Brasil, 134 no Peru e 68 no Equador. E os especialistas sugerem que tais números são ainda tímidos: existe uma grande quantidade de pontos e áreas de garimpos ilegais não confirmados, tornando o cenário ainda pior.

Garimpo 2

Os efeitos na são devastadores: mangueiras usam água pressurizada para desmontar barrancos naturais à procura de ouro, deixando imensas crateras, destruindo a vegetação e interferindo na dinâmica da floresta. Com a chegada das retroescavadeiras hidráulicas, esse efeito tornou-se muito maior. Mas o pior efeito é o uso desregrado do mercúrio como purificador do ouro, contaminando água, ar e os animais – e, em efeito cascata, chegando até os seres humanos.

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Fonte: hypeness

Vitor Paiva – Escritor, jornalista e músico, doutorando em literatura pela PUC-Rio, publica artigos, ensaios e reportagens. É autor dos livros Tudo Que Não é Cavalo, Boca Aberta, Só o Sol Sabe Sair de Cena e Dólar e outros amores.

© fotos: divulgação

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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