AMEAÇA DE PERDA DE FUNÇÃO E SOBRECARGA DE TRABALHO SÃO AS PRINCIPAIS FORMAS DE ASSÉDIO ORGANIZACIONAL DENTRO DA CAIXA

AMEAÇA DE PERDA DE FUNÇÃO E SOBRECARGA DE TRABALHO SÃO AS PRINCIPAIS FORMAS DE ASSÉDIO ORGANIZACIONAL DENTRO DA CAIXA

Ameaça de perda de função e sobrecarga de trabalho são as principais formas de assédio organizacional dentro da Caixa

Pesquisa encomendada pela Fenae ouviu 3.820 empregados do banco entre os meses de junho e julho deste ano

Por FENAE

Quase metade dos empregados da Caixa Econômica Federal sofreu ou testemunhou ameaça de perda de função e sobrecarga de trabalho. As duas práticas são apontadas pelos trabalhadores, inclusive, como as principais formas de assédio organizacional dentro da instituição financeira. O dado foi revelado pela pesquisa nacional encomendada pela Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), entre os meses de junho e julho deste ano, com 3.820 empregados do banco — ativos e aposentados.

Realizada pela Acerte Pesquisa e Comunicação, a pesquisa investigou os riscos psicossociais e os aspectos da organização do trabalho no banco público. O objetivo do estudo foi compreender os indicadores de saúde da categoria e contribuir para o desenvolvimento de políticas de saúde efetivas, que tragam melhores condições de trabalho para os empregados da Caixa e assegurem a excelência dos serviços prestados à sociedade.

A pesquisa considerou a exposição a práticas assediadoras do ponto de vista direto (ter sido vítima) e indireto (ter testemunhado). A sobrecarga de trabalho é identificada pelos empregados da Caixa como a principal prática assediadora na instituição. Quase metade das pessoas entrevistadas afirmou ter sido vítima ou testemunha da prática, o que eleva em quase duas vezes o risco de uso de medicação controlada e de diagnósticos psiquiátricos.

Os resultados mostram também que as práticas assediadoras por imposição de sobrecarga e ameaça de perda de função aumentam em quase duas vezes tanto o risco de uso de medicação controlada quanto o de diagnósticos psiquiátricos. Naqueles bancários assediados com sobrecarga de trabalho, por exemplo, o percentual de uso de medicação sobe de 18,5% para 39,7%. Considerando que 32% dos bancários afirmam utilizar medicação de uso controlado por motivos relacionados ao trabalho, é possível supor que esse tipo de assédio responda por aproximadamente 10% da medicalização na Caixa.

Para o presidente da Fenae, Sergio Takemoto, os números confirmam aquilo que o movimento sindical tem denunciado ao longo dos anos: a pressão por metas, associada a diversos fatores, como o medo do descomissionamento, tem afetado a saúde mental dos trabalhadores. “A direção da Caixa finge não ver que os empregados e empregadas estão sofrendo com diversos tipos de assédio. Além de não reorganizar a gestão do trabalho para evitar esse tipo de prática, agora impõe um reajuste no Saúde Caixa quase impossível para os trabalhadores. A categoria pede urgência nas condições de trabalho e no Saúde Caixa — este último é fundamental para garantir o tratamento adequado para os empregados que sofrem com assédio”, reforça Takemoto.

Apesar do aumento nos índices de medicalização e diagnósticos em razão do assédio, não se verifica um impacto equivalente no percentual de afastamentos do trabalho. Ao menos 41% dos colegas nunca se afastaram. Dos que se afastaram, 82% não emitiram o Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT); destes, 37% justificaram com medo de retaliação ou recusa do gestor (7%). Os dados reforçam a hipótese de que o número de afastamentos é insuficiente para mapear o adoecimento e suas causas nos bancários da Caixa: há um grande número de empregados trabalhando doentes por medo ou desinformação.

Gerentes e bancários sem função são os mais vitimados pela imposição de sobrecarga de trabalho

Em relação à imposição de sobrecarga de trabalho, apesar de os percentuais serem próximos, na rede de agências 48% dos empregados da Caixa foram vítimas diretas ou indiretas, enquanto na área meio o percentual cai para 42%. Todas as funções experimentaram alta exposição total (direta e indireta) a esse tipo de assédio. As funções gerenciais e o Técnico Bancário Novo Sem Função (TBN S/Função) tiveram a maior exposição — 69% e 68%, respectivamente. O TBN Com Função Incorporada teve uma menor exposição (63%). Todas as demais ficaram no patamar de 67%.

Os resultados apontam para uma prática disseminada de forma homogênea. Ou seja, pelo menos seis empregados a cada dez foram expostos à sobrecarga de trabalho. Os bancários mais jovens e as mulheres são os mais expostos.

A partir dos resultados, identifica-se que a sobrecarga de trabalho é o assédio mais prevalente, seguido pela retirada de autonomia.

Confira os resultados da pesquisa completos

Dentre todas as práticas assediadoras analisadas, do ponto de vista da exposição geral (direta e indireta), lideram a classificação a sobrecarga de trabalho, retirada de autonomia e vigilância excessiva:

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Quando se analisa apenas as situações de assédio indireto (testemunha), a classificação tem uma mudança substancial, subindo para a liderança a ameaça de perda de função:

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Com base nesses dados, é possível identificar as situações de assédio mais vivenciadas na Caixa em seus diferentes espectros:
1. Expor a uma sobrecarga de trabalho

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○         1º em vivência direta (46% foram vítimas)

○         1º em exposição geral (67% foram vítimas ou testemunhas)

2. Retirar a autonomia

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○         2º em vivência direta (31% foram vítimas)

○         2º em exposição geral (56% foram vítimas ou testemunhas)

3. Gritar ou falar de forma desrespeitosa

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○         5º em vivência direta (29% foram vítimas)

○         3º em exposição geral (55% foram vítimas ou testemunhas)

4. Ameaça de perda de função

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○         6º em vivência direta (27% foram vítimas)

○         3º em exposição geral (55% foram vítimas ou testemunhas)

Capa: Reprodução/Internet

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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